Diante do atual ciclo de alta dos juros implementado pelo Banco Central, o crédito aos consumidores e empresas tem ficado cada vez mais caro. Em março, a taxa média do cheque especial atingiu 220,4% ao ano, o maior nível em quase 20 anos - em dezembro de 1995, o nível chegou a 242,23% ao ano. Essa tendência de alta, segundo dados do BC, está em praticamente todas as modalidades de crédito e, com isso, a taxa média das operações com recursos livres bateu recorde, atingiu 40,6% ao ano no mês passado.
As linhas mais caras foram as que mais subiram. O cheque especial, que perde apenas para o rotativo do cartão de crédito nesse ranking das maiores taxas, apresentou elevação de 6,2 pontos porcentuais apenas no mês; no trimestre, a alta foi de 19,4 pontos porcentuais. No acumulado de 12 meses, os juros do cheque especial subiram 61 pontos.
O rotativo do cartão de crédito ficou com taxa de 342,2% ao ano em março e mais uma vez ficou como a modalidade com encargos mais pesados. Um mês antes, em fevereiro, os juros dessa opção eram 7,6 pontos porcentuais menores, estavam em 334,6% ao ano. Em 12 meses, o rotativo teve a taxa elevada em 27,1 pontos porcentuais. Para Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, esse movimento de alta das taxas ocorre em um cenário de inadimplência em baixa. Para as famílias, o nível de calote entre fevereiro e março apresentou uma ligeira elevação ao passar de 5,3% para 5,4% - essa taxa corresponde apenas às operações com crédito livre. As empresas ficaram com o nível de inadimplência estável em 3,5% entre um mês e outro.
Maciel observou que os consumidores, diante da alta das taxas, têm migrado de linhas mais caras para outras mais baratas. "Para pessoa física, houve aumento importante das operações de crédito consignado, principalmente para aposentados", relatou. "O crédito consignado representa um terço do crédito para os consumidores, com uma elevação acima da média para pessoa física." Crescimento Os dados divulgados nesta sexta-feira, 24, pelo BC mostram também que o estoque de operações de crédito do sistema financeiro subiu 1,2% em março ante fevereiro e chegou a R$ 3,060 trilhões. Embora a economia esteja praticamente estagnada, a tomada de financiamentos no País continua em expansão moderada, a um ritmo de 11,2% em 12 meses até o mês passado.
Segundo Maciel, as operações de crédito em março mostraram um aumento maior do que o registrado em fevereiro e janeiro em função de uma sazonalidade do ciclo econômico. "O dinamismo da economia brasileira tem esse padrão crescente nos primeiros meses do ano e o crédito acompanha essa evolução", afirmou. "A nossa previsão para a expansão do crédito noano segue em 11%." Maciel chamou atenção para o crescimento em 12 meses no crédito livre para pessoa jurídica, que chegou a 5,1% em março.
Em dezembro do ano passado, essa expansão era de 3,8%. "O primeiro trimestre de 2015 foi melhor no crédito para as empresas do que os três primeiros meses do ano passado. Em parte, isso decorre da evolução do câmbio", avaliou. Segundo ele, houve crescimento expressivo no financiamento às exportações e nos repasses externos, com altas de 2,8% e 13,8% em março, respectivamente.Ele destacou que a carteira do BNDES para empresas, que representa quase três quartos do total do crédito direcionado para pessoas jurídicas, teve crescimento de 2,2% em março e de 16,3% em 12 meses. Esse movimento, explicou, foi influenciado pela variação do dólar.
Tesouro Direto bate recorde de vendas em março
O Tesouro Direto bateu recorde em março, com mais de R$ 1 bilhão em vendas. O resultado representa crescimento de 118,8% na comparação com o mesmo mês de 2014, quando as vendas somaram R$ 457,6 milhões.
O Tesouro Direto é a plataforma online de compra e venda dos títulos do governo para pessoas físicas. Para investir, é necessário ter uma instituição financeira ou corretora como agente de custódia.
A disparada nas vendas do Tesouro Direto coincide com a mudança nos nomes dos títulos públicos, que começaram a valer em 10 de março. As siglas que nomeavam os títulos (a chamada "sopa de letrinhas") confundiam os novos investidores e foram substituídas por nomes simplificados. A NTN-B Principal, por exemplo, passou a se chamar Tesouro IPCA, referência ao tipo de rentabilidade do título: uma taxa prefixada acrescida da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O momento de inflação e juro altos também faz crescer a atratividade do Tesouro Direto. O IPCA atingiu a taxa de 8,13% no acumulado em 12 meses até março. Já a Selic está hoje no patamar de 12,75% ao ano. Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central), se reúne para definir o rumo do juro básico.
Nesse cenário, o Tesouro Direto conseguiu atrair 12.570 novos investidores em março - número três vezes maior que em março do ano passado. São 484.275 investidores, alta de 23% na comparação anual. O número de investidores do Tesouro Direto se aproxima de quem aplica em ações. Em março, a Bolsa tinha 565.476 CPFs cadastrados.
Os resgates no Tesouro Direto somaram R$ 457 milhões, sendo R$ 168 milhões relativos a recompras e R$ 289 milhões referentes a vencimentos. A recompra diária dos títulos, outra mudança anunciada em março, passou a valer somente no dia 30. Antes, o Tesouro Direto comprava de volta os títulos dos investidores somente às quartas-feiras.
Perfil de compra. Os títulos indexados à inflação se mantiveram em março como os mais vendidos, com 51% do total. O Tesouro IPCA foi papel mais vendido, com 37,7%. O Tesouro IPCA com Juros Semestrais (antiga NTN-B) representou 13,3% das vendas.
O Tesouro Prefixado (antiga LTN) teve representatividade de 15,8%, enquanto o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (antiga NTN-F) correspondeu a 1,5% do total. O papel indexado à taxa básica de juros, a Selic, o chamado Tesouro Selic (antiga LFT), representou 31,8% das vendas.
Mais de 30% das pessoas investiram até R$ 1 mil. Outro segmento representativo é o de aplicações de valores de R$ 10 mil a R$ 50 mil, com 20% do total.
Rentabilidade. Um título com menor prazo de vencimento, como o Tesouro Prefixado 2018, está com rentabilidade anual bruta em torno de 11%, enquanto um papel de longo prazo, como o Tesouro IPCA 2035 renderia anualmente 20% bruto.