Americano exalta nova era nas relações com a América Latina, volta a defender aprovação do fim do embargo no Congresso e responde a ironias do equatoriano Rafael Correa: ‘Não tenho a clareza dele para separar boa imprensa da imprensa ruim’

 

CIDADE DO PANAMÁ - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse neste sábado, 11, aos líderes das Américas reunidos no Panamá que não está interessado em “ideologia” e propôs uma parceria pragmática, simbolizada por sua decisão de restabelecer relações com Cuba depois de um rompimento de cinco décadas de meia. Logo depois dele, o cubano Raúl Castro criticou as intervenções americanas em seu país, mas elogiou o presidente.

 

 

Enquanto Obama se dizia interessado no futuro, Castro fez questão de lembrar o passado, elencando todos os casos de intervenção americana em seu país desde a guerra de independência. “Não estou interessado em disputas que começaram antes de eu nascer”, disse Obama, em relação à Guerra Fria.

 

 

 

“Já era tempo que eu discursasse aqui”, disse o presidente de Cuba, Raúl Castro, dizendo que conseguiu permissão para falar mais que os oito minutos sugeridos, já que Cuba tinha o crédito de seis Cúpulas das Américas. Cuba foi excluída de todas os encontros realizados desde 1994.

 

 

 

 

O presidente dos EUA, Barack Obama, discursou na manhã deste sábado, 11, durante reunião de líderes das Américas.

O presidente dos EUA, Barack Obama, discursou na manhã deste sábado, 11, durante reunião de líderes das Américas.

 

 

 

 

 

Obama disse que pretende “olhar para o futuro” e não ficar preso ao passado, depois da decisão de restabelecer os laços com Cuba. Castro mencionou a ocupação da Baía de Guantánamo e acusou Washington de apoiar ditaduras no país desde então, até a Revolução de 1959. “Os EUA não serão aprisionados pelo passado. Olhamos para o futuro”, afirmou. “ Me comprometi com uma nova era de cooperação entre os países da região.”

 

 

 

 

O enfrentamento entre Obama e o presidente do Equador, Rafael Correa, marcou o início da primeira sessão dos líderes dos 35 países. Correa fez um violento ataque ao sistema interamericano e propôs um novo modelo, que separe os países da América Latina dos da América do Norte. Correa também atacou a defesa dos direitos humanos feita pelos Estados Unidos e disse que os avanços sociais são o mais importante. O presidente disse que a ideia de liberdade de imprensa atende aos interesses dos donos de jornais e das elites e afirmou que a imprensa da América Latina é ruim.

 

 

Obama defendeu o fortalecimento da sociedade civil e afirmou que não acreditava um sistema no qual um dirigente tenha o poder de decidir qual imprensa é boa ou ruim. 

 

 

Cuba chegou à cúpula quatro meses depois de Castro e Obama terem anunciado o restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, colocando fim a cinco décadas e meia de rompimento. A reaproximação abriu caminho para os dois presidentes estarem lado a lado - antes, havia dúvidas sobre a presença de Obama. 
A expectativa na manhã de ontem era a de que Obama, anunciasse durante seu discurso na reunião a retirada de Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo, mas isso acabou não ocorrendo. 

 

 

Obama e Raúl conversaram por telefone na quarta-feira, antes da viagem do presidente americano à América Central. Essa foi apenas a segunda conversa direta entre os líderes dos dois países em 53 anos de relações rompidas. A primeira ocorreu em dezembro, pouco antes de Havana e Washington anunciarem a intenção de retomar relações diplomáticas. 

 

 

Na noite de sexta-feira, ambos trocaram um aperto de mãos no encontro de chefes de Estado e governo na Cidade do Panamá. Ao longo dos últimos dia, cresceu a expectativa de que Obama usasse a cúpula para anunciar a retirada de Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo. 

 

 

O anúncio de restabelecimento dos laços entre os dois países foi realizado de maneira simultânea por Obama e Castro no dia 17 de dezembro. A primeira consequência da aproximação será a abertura de embaixadas respectivas em Havana e Washington. Ambos os países possuem hoje "seções de interesse" que funcionam no âmbito das embaixadas da Suíça.

 

 

Desde dezembro, os dois presidentes falaram por telefone duas vezes, nos primeiras conversas formais entre dirigentes cubanos e americanos desde o rompimento das relações, há cinco décadas e meia. Na cúpula, ambos se encontraram ontem e hoje.

 

 

Apesar da mudança nas relações, continua em vigor o embargo econômico dos EUA contra Cuba, estabelecido em 1961. A medida só pode ser levantada pelo Congresso americano, mas é pouco provável que isso ocorra ainda no mandato de Obama, apesar de seu apelo para que os parlamentares revoguem as sanções.

 

 

Cuba e Estados Unidos também criaram uma série de diálogos sobre distintos temas, entre os quais direitos humanos, aviação e telecomunicações. Havia a expectativa de que a abertura de embaixadas fosse anunciada antes da cúpula.
 

Presidente elogia decisão de Washington e Havana de retomar relações, mas volta a defender abertura comercial com a ilha

 

CIDADE DO PANAMÁ - Em dia de comemoração pela volta de Cuba à Cúpula das Américas, a presidente Dilma Rousseff elogiou a decisão dos presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, de terminar com o estranhamento entre os dois países, mas cobrou o fim do embargo econômico em Cuba. Dilma também aproveitou sua fala, a terceira entre os 35 países presentes no encontro, para criticar as sanções contra a Venezuela, estabelecidas pelos americanos há cerca de um mês. 

 

 

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“Celebramos aqui e agora a iniciativa corajosa dos presidentes Raúl Castro e Barack Obama de restabelecer as relações entre Cuba e Estados Unidos, pondo fim a esse último vestígio da guerra fria na região que tantos prejuízo nos trouxe”, discursou a presidente. “Estamos seguros que outros passos serão dados como o fim do embargo que já mais de cinco décadas vitima o povo cubano e enfraquece o sistema interamericano. Aí sim estaremos construindo as linhas que pautarão nosso futuro.” 

 

Apesar da celebração da primeira vez que Cuba e Estados Unidos sentam juntos à mesma mesa em uma Cúpula das Américas, os discursos presidenciais não pouparam as críticas ao governo americano, não apenas pela manutenção do embargo - que Obama prometeu que estava trabalhando com o Congresso americano para suspender - mas principalmente pelo ressurgimento da crise com a Venezuela. Ao falar primeiro, o presidente do Equador, Rafael Corrêa, concentrou-se nas acusações aos Estados Unidos. 

 

Terceira a falar, Dilma trouxe à tona as sanções contra o país de Nicolás Maduro. “O bom momento das relações no hemisfério já não admite ações unilaterais e de isolamento, contraproducentes e ineficazes. Por isso rechaçamos a adoção de sanções contra a Venezuela. O atual quadro desse país irmão pede moderação, pede a aproximação de todas as partes. Com esse propósito, a Unasul (União das Nações Sul-americanas, trabalha para apoiar diálogo político na Venezuela”, afirmou a presidente, lembrando que a comissão de chanceleres da entidade tem mediado o diálogo entre a situação e a oposição para que sejam realizadas as eleições deste ano. 

 

Dilma lembrou que a região tem o maior período de paz na sua história, com todos os países com regimes democráticos, o que precisa ser incentivado e respeitado. 

 

“É nossa responsabilidade fazer desse um século de paz”, disse.