Título: Ricos ressaltam as diferenças
Autor: D"angelo, Ana; Bonfati, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2011, Economia, p. 11
O reconhecimento da existência de discriminação racial é maior entre os que ganham mais. De acordo com a pesquisa do IBGE, na faixa de renda per capita familiar acima de quatro salários mínimos (R$ 2.180 por membro da família), 77% dos entrevistados consideram a cor das pessoas determinante em suas relações pessoais, sociais ou profissionais. No DF, esse índice atingiu 86,3% entre os que estão nessa faixa de rendimentos. Só não foi maior que o verificado nesse grupo na Paraíba, cujo índice atingiu 94,7%.
Entre as unidades da Federação, o Amazonas foi a que apresentou os menores percentuais de discriminação racial. No entanto, para seus habitantes, a cor é mais determinante na relação com a política e o Judiciário, com índice de 60,2%. A influência no trabalho vem depois, com 54% dos consultados admitindo a discriminação no ambiente profissional. Em São Paulo, o preconceito racial é em grau elevado também na relação com a polícia, com 71,5% dos paulistas reconhecendo sua existência. Só fica atrás do racismo no trabalho (72,6%).
No Distrito Federal, o racismo é admitido em menor proporção quando se trata de casamento, com 48,1% reconhecendo essa situação. Na Paraíba, o percentual é ligeiramente maior, de 49,5%. No DF, a discriminação na relação com a polícia vem em terceiro lugar, depois do trabalho e do convívio social.
O técnico em eletrônica Ricardo Silva, 41 anos, enfrenta preconceito cotidianamente. "Em vários estabelecimentos comerciais, quando entro, acham que vou roubar, que sou ladrão", indigna-se. "Também já cansei de ficar num lugar e darem a preferência de um pedido, como um chope, para o branco", diz.
O pesquisador do IBGE José Luís Petruccelli afirma que muitos brasileiros usam o termo "moreno", em vez de negro ou pardo. "Moreno é um termo para fugir da questão. Pode ser quase qualquer um, pode ser bronzeado de sol ou afrodescendente", afirmou. Na hora de se autoclassificarem, os entrevistados levaram em conta principalmente a cor da pele (74%), mas também consideraram a origem familiar (62%) e os traços físicos, como cabelo, boca e nariz, mencionados por 54% deles.