Os aplicadores retiraram das cadernetas de poupança em março R$ 11,4 bilhões, dos quais R$ 9,2 bilhões dos agentes financeiros do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que destinam a quase totalidade dos empréstimos à construção e à aquisição da casa própria pelos mutuários finais. Não quer dizer que faltarão recursos para a habitação neste ano, mas a sobra existente até 2014 começa a se reduzir. E, quando os recursos ficarem escassos, os bancos terão de colocar outros papéis para financiar a habitação, a custos mais altos.
Os saques nas cadernetas do SBPE foram os mais elevados em duas décadas, segundo o Banco Central. Em três meses, saíram R$ 18,5 bilhões do SBPE, cerca de 3,5% do saldo de dezembro, de R$ 522,3 bilhões. Isso se deve, em especial, às dificuldades crescentes das famílias para pagar as contas do mês - do custo de energia, água e transporte (ônibus e combustível) às pressões de preços de alimentos e de serviços. Queda do rendimento real e maiores dificuldades com o emprego têm tudo que ver com as retiradas.
Outra explicação está no deslocamento de recursos da poupança para aplicações mais bem remuneradas. Mas as indicações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que essa transferência tem sido limitada. No trimestre, houve saques de R$ 2,67 bilhões nos fundos de investimento, pior resultado desde 2002. No mesmo período de 2014, houve captação positiva de R$ 1,89 bilhão. No caso dos fundos, muitos saques são feitos por empresas, que também enfrentam dificuldades com a elevação de custos e com a falta de mercado.
A combinação de saques nas cadernetas e nos fundos sugere que alguns aplicadores se voltaram para ativos de alto risco, como dólares.
A substituição dos recursos das cadernetas por outras formas de captação deve ser acompanhada com cuidado pelos interessados na compra da casa própria. Com a exceção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), as cadernetas têm baixo custo de captação, remunerando os aplicadores com 0,5% ao mês mais a TR. É o que permite conceder empréstimos a taxas módicas.
Entre as consequências do esgotamento de recursos das cadernetas, provavelmente a partir de 2016, estarão não só o aumento dos juros para financiar a casa própria, mas a diminuição da oferta de crédito direcionado, criticado pelos custos mais baixos do que os de mercado.