Título: Investimento cai US$ 35 bi
Autor: Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2011, Economia, p. 15

PETROBRAS

Estatal reduz volume de desembolsos até 2015 com o intuito de ajudar o governo a conter a inflação. Para bancar projetos, empresa teria que reajustar a gasolina. Refinarias serão as mais prejudicadas

A diretoria da Petrobras cedeu às pressões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e conseguiu ontem, só na terceira tentativa, que o Conselho de Administração da estatal aprovasse o plano de negócios para o período 2011-2015. Após semanas de negociação, o total de investimentos previstos ficou em até US$ 224,7 bilhões, praticamente o mesmo previsto no plano anterior (2010-2014). Os novos valores refletem um corte de US$ 35 bilhões exigidos por Mantega sobre o orçamento pretendido inicialmente pelo comando da petrolífera, de US$ 260 bilhões. No fato relevante divulgado à noite, a companhia admitiu que irá ¿desinvestir¿ US$ 13,6 bilhões, visando maior eficiência e rentabilidade. ¿Não há grandes mudanças. O volume de investimento chama a atenção. É mais do que a ajuda da Grécia¿, disse Carlos Stempniewsky, professor das Faculdades Integradas Rio Branco.

A aprovação do plano era aguardada desde 13 de maio e a expectativa em torno dos negócios da Petrobras acabou deixando investidores cautelosos. Na BM&FBovespa, as ações preferenciais (PN) da empresa fecharam a semana em leve queda de 0,13%. Já as ações ordinárias (ON), com direito a voto, subiram 0,19%. A longa queda de braço entre Mantega, que preside o conselho, e o presidente executivo da companhia, José Sérgio Gabrielli, chegou ao fim após duas reuniões fracassadas em maio e junho.

Fôlego menor Mantega vetou por duas vezes seguidas o plano de negócios que previa gastos adicionais e cobrou revisões. A insistência do ministro devia-se à preocupação com o impacto dos gastos da maior empresa do país na economia, justamente no momento em que o governo adota medidas para desacelerá-la e conter a inflação. Na última quarta-feira, Gabrielli e Mantega, que representa o controlador (a União), fecharam acordo sobre os ajustes. Sem condições de elevar as receitas via alta nos preços de combustíveis e com a obrigação de adequar investimentos às margens fixadas pelo governo, a Petrobras reviu o ritmo dos grandes projetos. A área de exploração e produção aplicará 87% dos recursos nos projetos que já constam de seu portfólio. O segmento representa 57% do plano global da petrolífera.

As principais mudanças se concentram nos prazos das novas refinarias e no desenvolvimento de áreas exploratórias. As refinarias Premium I e II, com investimentos totais de US$ 30 bilhões, terão de adiar por um ano o início das operações. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), destacou a redução de gastos nos segmentos de refino, transporte e comercialização (de 33% para 31% do total) e de gás e energia (de 8% para 6%). ¿Os prazos de construção das refinarias devem se alongar e pode ser que a Petrobras venda uma parte de sua participação nas distribuidoras¿, afirmou.

Pires acredita que, para suprir as perdas acumuladas no primeiro semestre, o governo deveria determinar aumento no preço dos combustíveis. ¿A estimativa é de que a empresa tenha perdido R$ 1,8 bilhão com a gasolina, por ter mantido os mesmos preços desde 2009. (Colaborou Sílvio Ribas)

Salário extra para Miriam A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, foi eleita ontem conselheira da Petrobras. Ela assumirá provisoriamente a vaga deixada por Antonio Palocci, que saiu da Casa Civil por denúncias de corrupção. Miriam foi convocada para a reunião de ontem do conselho, na qual se reduziu o volume de investimentos da estatal. Ela entrou e saiu no edifício da petrolífera em Brasília sem dar declarações. Mais tarde, a Petrobras confirmou a sua escolha para o lugar de Palocci, pelo menos até a próxima Assembleia-Geral Ordinária, em 2012. A estimativa é de que Miriam receba salário extra de R$ 6 mil a R$ 7 mil.