BRASÍLIA — Na noite de terça-feira, 3 de março, os procuradores Douglas Fischer e Eduardo Pelella chegaram secretamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, sem chamar a atenção de advogados e jornalistas, entregaram ao ministro Teori Zavascki um pacote de petições. Três dias depois, a partir daqueles documentos, Teori autorizou a abertura de inquéritos criminais contra 22 deputados federais e 12 senadores, um momento agudo da crise política entre partidos e governo desde 2014, a partir das investigações da Operação Lava-Jato.

Para chegar até ali, a equipe criada pelo procurador-geral Rodrigo Janot enfrentou 37 dias de intensa rotina de trabalho. O grupo analisou mais de 130 depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef e identificaram indícios de crimes cometidos por políticos na intermediação de negócios entre grandes empresas, especialmente empreiteiras, e a Petrobras.

 

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Foram dias de frenética pesquisa: procuradores e promotores, da antessala do gabinete de Janot, mergulharam no escândalo para preparar os pedidos que podem tirar o mandato e levar à cadeia alguns dos políticos mais influentes do país.

 

A força-tarefa começou a trabalhar em 26 de janeiro. Uma semana antes, Janot convocou Fischer para a missão. O procurador interrompeu as férias com a família e foi a Brasília para convidar mais seis colegas. Janot queria resposta rápida. Numa sala com cerca de 80 metros quadrados, ao lado do gabinete de Janot, o grupo iniciou uma jornada que começava às 8h e não poucas vezes terminava após as 22h.

A primeira tarefa foi ler os longos depoimentos de Youssef e Costa e decidir o que fazer com aquela massa de informações. Sobre quem pedir abertura de inquérito? Sobre quais políticos se pedir arquivamento? A força-tarefa recomendou a abertura de inquérito sobre políticos que, segundo os delatores, receberam dinheiro de envolvidos nas fraudes.

 

Acusações indiretas, formuladas pelos delatores com base em informações de terceiros e não passíveis de checagem imediata, não seriam consideradas. Assim, foram arquivadas petições sobre os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Delcídio Amaral (PT-MS), entre outros. A presidente Dilma Rousseff foi excluída — a Constituição prevê que presidentes não podem ser investigados por atos anteriores ao mandato. E a acusação referia-se à campanha de 2010: o ex-ministro Antonio Palocci teria pedido contribuição financeira a Costa.

— Fizemos um trabalho técnico, coerente. Não tivemos dificuldade nos enquadramentos — disse Fischer.

Os investigadores concluíram que precisariam interrogar Costa e Youssef. Com o aval do STF, a força-tarefa se dividiu para ouvi-los no Rio e em Curitiba, em 11 e 12 de fevereiro. Nos dias seguintes, o país parou por causa do carnaval; a força-tarefa não. Procuradores e promotores continuaram analisando documentos. Na semana seguinte, estavam redigindo as petições que, tornadas públicas em 3 de março, acirraram a crise governista.