Desde o início das obras do corredor Transoeste — inaugurado em junho de 2012 —, o Rio de Janeiro passa por um ciclo de grandes investimentos em transporte de alta capacidade. Área da cidade para onde converge grande número de pessoas, o Centro receberá o BRT Transbrasil e o inédito sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) com seis linhas de bondes elétricos. Isso sem falar na revitalização da Zona Portuária, que está transformando a lógica da mobilidade com mudanças profundas, como a demolição do Elevado da Perimetral, a construção de túneis subterrâneos e a criação de novas vias. Esse conjunto de modificações tem um objetivo único: melhorar a vida do carioca.

Enquanto as mudanças estão em curso, os transtornos para os motoristas são inevitáveis. E são os operadores de trânsito que, debaixo de sol ou chuva, atuam para minimizar os impactos do reordenamento do tráfego no dia a dia do carioca. São eles também que, na linha de frente, têm de lidar com a compreensível irritação dos motoristas diante das dificuldades. São profissionais indispensáveis para a cidade, que têm a missão de garantir fluidez das vias, coibir estacionamento irregular, orientar pedestres e, quando necessário, como em casos de acidentes, efetuar bloqueios ou solicitar a desobstrução de ruas.

A morte do supervisor da CET-Rio David Bezerra de Vasconcelos, atropelado por um ônibus no dia 10 de fevereiro, reacendeu o sinal de alerta de que vivemos dias de fúria no trânsito. Chamado para a ocorrência de uma colisão entre um ônibus e um carro na Avenida Presidente Vargas, no Centro, ele pediu ao motorista do coletivo que retirasse o veículo da via ao constatar que não havia vítimas. Ele estava apenas trabalhando quando foi atropelado e morto. O caso está sob investigação policial, que é acompanhada de perto pela Secretaria municipal de Transportes.

De lá para cá, outros dois agentes foram agredidos por motoristas enquanto trabalhavam. No último caso, na última quinta-feira, a agressão resultou em um tapa no rosto do operador de tráfego. Diante disso, é preciso frisar que melhorar o trânsito é dever de todos: poder público e população. Não à toa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em 2010 a “Década de Ação para a Segurança Viária (2011-2020)”. Naquele ano, 1,2 milhão de pessoas morreram em todo mundo no trânsito. Em 2014, 2.080 pessoas morreram no Estado do Rio vítimas de atropelamentos, segundo o Ministério da Saúde.

David tinha 33 anos, deixou mulher e um filho de 3 anos. Para que tragédias como essa não se repitam, é preciso que todos nós, cidadãos cariocas, passemos por uma transformação junto com a nossa cidade, que envolve dirigir com cautela, respeitar a vida e compreender o trabalho dos operadores de trânsito. Se as dificuldades já existem com a presença desses profissionais nas ruas, certamente ficariam piores sem eles.

Rafael Picciani é secretário municipal de Transportes