O Brasil continua na contramão da economia mundial e isso é confirmado pelos novos números do desemprego. Enquanto o mercado de trabalho melhora na maior parte dos demais países, aumenta a porcentagem de brasileiros com dificuldade para conseguir uma vaga. A piora das condições de emprego é apontada por todos os levantamentos oficiais. A desocupação chegou a 7,4% da força de trabalho no trimestre dezembro-fevereiro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, conduzida em cerca de 3.500 municípios pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre outubro e dezembro havia ficado em 6,5%.

O cenário brasileiro é bem pior que o de várias economias avançadas e também emergentes. Já era assim no ano passado, embora a presidente Dilma Rousseff ainda insistisse em falar de um Brasil razoavelmente próspero e seguro num mundo em crise. Ela estava errada, assim como esteve durante os quatro anos de seu primeiro mandato, quando o Brasil cresceu muito menos que os demais emergentes e acumulou enormes desajustes nos preços, nas finanças públicas e nas contas externas. O descompasso entre a economia brasileira e as dos países governados com alguma seriedade fica muito claro quando se tomam, por exemplo, os dados de novembro a janeiro dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos três meses terminados em janeiro, o desemprego médio das sete maiores economias capitalistas (G-7) ficou em 6,1%. Esse grupo inclui Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. No Brasil já estava em 6,8%, de acordo com a Pnad Contínua. França e Itália exibem taxas de desemprego maiores que a brasileira, mas os demais países do grupo, assim como a maior parte dos membros da OCDE, estão em condições muito melhores. A desocupação no Brasil tem sido maior, há meses, que a de 18 dos 34 países da organização, incluídos Coreia, Suíça, Chile e México, além de 5 das potências do G-7.

Desse descompasso podem resultar mais dificuldades para o Brasil. A redução do desemprego nos Estados Unidos (taxa de 5,5% em fevereiro) abre caminho para o aumento de juros, talvez já neste ano, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Se isso ocorrer, o acesso ao crédito internacional ficará mais difícil para países e empresas com problemas financeiros.

Esse é mais um motivo para o governo brasileiro se empenhar na arrumação de suas contas e evitar mais um corte na nota de crédito soberano. A Petrobrás, assolada pela corrupção e prejudicada por graves erros políticos do governo petista, já teve de recorrer, há poucos dias, a uma fonte especialmente acessível, um banco estatal da China. O controle de preços de combustíveis foi um desses erros muito custosos.

Outros números oficiais indicam também a piora do mercado de empregos no Brasil. A pesquisa mensal de emprego e desemprego do IBGE, realizada somente nas seis maiores áreas metropolitanas, apontou um aumento da taxa de desocupação de 5,3% em janeiro para 5,9% em fevereiro.

O Cadastro Geral do Ministério do Trabalho mostrou uma ligeira redução - de 0,01% - na criação mensal de vagas com registro em carteira em fevereiro. Em 12 meses, o fechamento de postos de trabalho foi 0,11% maior que a abertura, por causa do mau desempenho da indústria de transformação, da indústria extrativa mineral e da construção civil, com saldos negativos de 2,91%, 2,78% e 6,81%. Os números, mais uma vez, confirmam o fiasco da política industrial e também dos programas de infraestrutura e de habitação popular, alardeados como grandes realizações do PT.

Com ritmos diferentes entre países, a economia global se recupera e o desemprego diminui, embora continue alto em partes da Europa. Na maior parte do mundo a inflação é baixa. Enquanto isso, o governo brasileiro inicia com atraso um ajuste penoso e inevitável, num cenário de desemprego em alta e inflação elevada. Sair da contramão pode ser muito difícil.