Um dia depois do histórico encontro entre os presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, na Cúpula das Américas, no Panamá, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse ontem que Obama deve decidir nos próximos dias sobre a retirada de Havana da lista de países que patrocinam o terrorismo. A imprensa cubana celebrou a participação inédita do país na cúpula e o recomeço das relações bilaterais.

A cúpula foi formalmente encerrada ontem, sem uma declaração formal, mas com uma série de consensos, que incluíram a cooperação no combate ao crime organizado e ao narcotráfico, a ampliação do acesso à educação e aos serviços públicos de saúde e o fortalecimento do Estado de Direito e do respeito aos direitos humanos.

Obama e Raúl se reuniram por 1h20 na noite de sábado para discutir a retomada das relações entre os dois países. Segundo Kerry, o Departamento de Estado, que concluiu um estudo a respeito da saída de Cuba da lista, fará recomendações a Obama. "Darei ao presidente a liberdade de decidir com base no estudo que fizemos", disse Kerry à rede de TV CBS. "Com base nisso, ele tomará sua decisão nos próximos dias."

Em Havana, a imprensa estatal celebrou o retorno de Cuba à cena diplomática do continente. Em edição especial, o diário Granma ressaltou a intenção de Raúl de discutir com os EUA questões ligadas a todos os temas, entre eles direitos humanos e liberdade de imprensa. "A reunião de sábado ratificou a condição histórica da cúpula, com a primeira participação de Cuba", publicou o jornal.

Acordos. Além da inédita reaproximação entre Washington e Havana, a reunião no Panamá terminou com a defesa dos presidentes reunidos no encontro de investimentos em infraestrutura, melhoria da qualidade de ensino e aumento da cobertura de banda larga como caminhos para elevar a produtividade de seus países e da região.

Os acordos obtidos pelo presidentes foram traduzidos em "mandatos" que serão encaminhados aos organismo multilaterais, para serem objeto de "financiamento e assistência técnica", disse o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, no encerramento da cúpula, na noite do sábado. Entre as entidades, citou a Organização dos Estados Americanos, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Organização Panamericana de Saúde (Opas).

A declaração final foi negociada durante quatro meses e houve acordo em relação a 90% de seu conteúdo. Além de pequenas divergências em relação ao texto original, a aprovação do documento foi dificultada pela insistência da Venezuela em incluir a condenação às sanções impostas pelos EUA a sete pessoas acusadas de violação de direitos humanos -nas quais o país é classificado como uma ameaça à segurança americana.

Sem acordo, houve apenas uma declaração do presidente do país anfitrião, consolidando os consensos obtidos nas discussões, em uma repetição do que ocorreu nas duas cúpulas anteriores.

Ao mesmo tempo em que defendeu o fortalecimento do Estado de Direito e a separação de Poderes, o texto ressaltou a importância de mecanismos de participação popular na gestão pública, refletindo uma posição cara aos países bolivarianos.

Para o presidente do Panamá, o documento final reflete o consenso possível na região. "Não pretendíamos alcançar unanimidade, que seria impossível em meio à pluralidade, mas sim ajudar a estender pontes em meio às diferenças e afirmar o que nos une, não o que nos divide."

O encontro do Panamá foi histórico pela presença de Cuba, que havia sido excluída de todas as cúpulas realizadas desde 1994. Também foi a primeira na qual a sociedade civil participou de maneira oficial, em um fórum paralelo. Mas as reuniões foram turbulentas, em razão de confrontos entre ONGs independentes de Cuba e organizações ligadas aos governos de Havanas e Caracas, que contestaram a presença de críticos do governo de Raúl Castro no evento.