A participação das economias em desenvolvimento nos fluxos globais de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) deverá diminuir e o Brasil não é exceção. Estimativas da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) indicam que essas economias perdem a posição de principal destino de fluxos globais de investimento a partir de 2015. Há, de fato, sinais de redução do apetite investidor em economias em desenvolvimento. O dinamismo da demanda interna, um dos principais fatores de atração do IDE, dá aqui sinais evidentes de exaustão.

Na contramão da tendência global, a economia brasileira aumenta sua necessidade de recursos externos. Temos o terceiro maior déficit em transações correntes do mundo. Isso significa que o Brasil precisa cada vez mais se valer de fontes externas de recursos para financiar seu desequilíbrio externo. Ou seja, a tarefa de atrair investimentos estrangeiros será não só mais difícil, como também mais necessária do ponto de vista das contas externas do País. Em resumo, haverá uma maior disputa entre países por uma menor parcela de fluxos globais de IDE voltados para economias em desenvolvimento justamente no momento em que mais carecemos desses ingressos.

Diante disso, as iniciativas de atração de IDE do País não poderão mais ater-se à atitude passiva de recepção de investidores em busca de possíveis oportunidades de investimento. O governo brasileiro deveria adotar uma postura ativa de atração de investimentos estrangeiros. E mais que isso, valeria buscar a maximização do potencial de benefícios desses investimentos em prol do crescimento sustentado da economia brasileira no longo prazo. Nesse sentido, a contribuição técnica de entidades que se voltam para o tema dos investimentos estrangeiros necessita ser mais bem aproveitada.

A Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), com sede em São Paulo, tem como missão estabelecer um fórum permanente de debates e reflexão sobre a questão da inserção internacional de diferentes economias, notadamente das em desenvolvimento, como a brasileira. Um dos principais objetos de estudo e de debate da entidade são as empresas transnacionais e os fluxos financeiros, tecnológicos e comerciais por elas veiculados. A Sobeet também é responsável pela divulgação no Brasil do World Investment Report, elaborado pela Unctad.

A Sobeet é desde seus primórdios uma entidade civil, apartidária, sem fins lucrativos e de caráter técnico-científico, formada por um grupo de pesquisadores, economistas, profissionais da área pública e privada, diplomatas, empresários, técnicos de sindicatos e representantes de câmaras de comércio, entre outros setores. A repercussão do seu trabalho, realizado em 20 anos de existência, e a respeitabilidade adquirida por suas iniciativas têm conferido à Sobeet presença relevante no debate sobre a inserção internacional do Brasil.

O Conselho da Sobeet - que passei a presidir desde dezembro de 2014 -, levando em conta as dificuldades conjunturais por que passa hoje o País, decidiu ampliar seus objetivos atuais para incluir uma maior participação das empresas brasileiras com investimento no exterior e estrangeiras com investimento no Brasil. Serão formados dois núcleos de empresas brasileiras e estrangeiras. Estas passarão a fazer parte do trabalho da Sobeet favorecendo a ampliação do debate sobre o tema de investimento e sobre políticas públicas que possam afetar positiva ou negativamente as decisões empresariais nessa área. Além disso, um seminário dedicado ao debate sobre as dificuldades e limitações das empresas nacionais e estrangeiras para expandir suas atividades deverá ser organizado em outubro.

O governo brasileiro tornou público no G-20 que até abril deste ano pretendia anunciar uma nova estratégia para aumentar o investimento direto na economia. A recuperação do investimento externo é uma das estratégias para tentar reativar a demanda na economia. Para tanto o primeiro passo seria a retomada da confiança nas políticas públicas. Essa percepção, juntamente com medidas fiscais e a política de juros, se insere no conjunto de políticas que o novo ministro da Fazenda está promovendo para o reequilíbrio macroeconômico, no momento em que o Federal Reserve - o Banco Central dos EUA - examina quando iniciar o gradual aumento dos juros. A constatação feita no G-20 e pela OCDE de que o baixo investimento dificulta o potencial econômico e o estímulo à demanda indica que o Brasil precisa fazer um esforço adicional para promover os investimentos diretos.

Não resta dúvida de que a agenda desses debates será extensa. São urgentes questões como o aproveitamento do potencial dos investimentos estrangeiros em prol do crescimento sustentado da economia brasileira, a adoção de uma atitude mais ativa na atração de IDE, a iniciativa do governo brasileiro de propor acordos de cooperação e facilitação de investimentos brasileiros no exterior com a África e a América do Sul, a melhoria da eficiência do governo e o papel das empresas transnacionais para a inserção do País em cadeias globais de valor.

Buscando contribuir de forma técnica, construtiva e rigorosa para esses debates, a Sobeet espera poder favorecer a formulação de estratégias e políticas públicas voltadas para o nosso aproveitamento do potencial de benefícios da inserção internacional da economia brasileira. Um esforço adicional deverá ser feito pela Sobeet para tentar avançar nas negociações de um acordo de bitributação com os Estados Unidos e a União Europeia.

A instituição surge agora, com toda a força, num momento delicado para ajudar a melhorar o ambiente de negócios para o investimento direto no exterior e no Brasil