Um protesto organizado por um grupo de cerca de 50 manifestantes fez o vice-presidente da República, Michel Temer, cancelar ontem, 27, o discurso que faria na Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), em Ribeirão Preto, no interior paulista. Durante a cerimônia de abertura da feira, a maior do agronegócio brasileiro, manifestantes ligados ao movimento Muda Ribeirão pediram o impeachment da presidente da Dilma Rousseff.

Com as mesmas camisetas e faixas utilizadas nos protestos de 15 março e 12 de abril, o grupo promoveu um buzinaço, vaiou os representantes do governo federal e aplaudiu os integrantes da oposição.

Além de Dilma - que ontem cumpria agenda em Santa Catarina - e Temer, os manifestantes também elegeram como alvo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

O vice-presidente precisou deixar a feira logo após a cerimônia de abertura, sem fazer o pronunciamento previsto ou mesmo conceder entrevista aos jornalistas. A própria cerimônia de abertura foi prejudicada pelo barulho dos manifestantes e nenhuma das autoridades que estavam no evento fez qualquer tipo de pronunciamento.

Além de Temer, estavam presentes os ministros da Agricultura, Kátia Abreu, e de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) - estes dois últimos foram aplaudidos.
‘Engavetador’. Caiado aproveitou para criticar a possibilidade de o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rejeitar pedidos de impeachment de Dilma elaborado pela oposição. “Ele (Cunha) não é a última palavra; a última palavra é do plenário. Ele pode rejeitar, mas cabe recurso ao plenário”, disse. “Ele não pode ser ‘engavetador’ da proposta.”

No dia 19 de abril, em evento em Comandatuba, na Bahia, Cunha disse que deve rejeitar eventual pedido de impeachment de Dilma Rousseff com base nas “pedaladas fiscais”, manobra do governo de usar bancos públicos para cobrir despesas de programas sociais que deveriam ser pagas pelo Tesouro. O TCU já concluiu que houve empréstimos de bancos estatais para o Tesouro com essa finalidade, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas, para Caiado, há “dados substantivos” para uma fundamentação jurídica da proposta de impedimento.