O militante lulopetista José Sérgio Gabrielli cumpriu o papel que o PT esperava dele, ao comparecer quinta-feira à CPI da Petrobras, na condição de presidente da Petrobras no longo período em que a estatal foi assaltada por um esquema em que se aliaram PT, PMDB, PP, executivos da empresa e empreiteiras.
Gabrielli já depusera no ano passado em comissão criada formalmente com o mesmo objetivo de investigar a estatal, mas sob total controle do Planalto. O economista e sindicalista Gabrielli pôde, então, desfilar sem sustos seu estilo professoral arrogante. Na quinta, não foi tão fácil, pois a composição desta CPI é outra.
Mas o petista baiano não deixou de fazer longas exposições enfadonhas e desinteressantes sobre a indústria do petróleo, no figurino do antigo personagem Rolando Lero, com o objetivo de ganhar tempo e nada responder.
Como quinta é dia de debandada dos políticos de Brasília, Gabrielli, em comandita com o relator da CPI, Luís Sérgio, petista fluminense, desfiou respostas extensas a perguntas também longas, numa tentativa da dupla de vencer os deputados oposicionistas pelo cansaço. Não foram bem sucedidos.
Às perguntas sobre a corrupção na Petrobras, Gabrielli deu respostas que compõem uma cândida versão sobre o assalto cometido na estatal, contabilizado, até agora, pelo Ministério Público em mais de R$ 2 bilhões. Não faltou mesmo a ideia petista recorrente do “nada vi, não sabia”. No entendimento de Gabrielli, numa empresa que fecha 200 mil contratos, o roubo é sempre possível. O que imaginar, então, de corporações maiores? Deve-se, então, considerar que desfalques fazem parte do cotidiano da Exxon americana.
O ex-presidente da Petrobras não conseguiu afastar a percepção de que só com grande cumplicidade interna contratos puderam ser superfaturados, e não apenas na emblemática refinaria Abreu e Lima, cujo preço inicial foi multiplicado por dez. Não convence a explicação capenga de que as propinas saíram do “lucro” das empreiteiras, e por isso se deveriam a arreglos feitos “fora” da Petrobras. Ora, esse “lucro” é formado pelo dinheiro do contratante, a estatal. Houve, portanto, uma drenagem no caixa da empresa. A acreditar na edulcorada história contada por José Sérgio Gabrielli, o corpo técnico da Petrobras é formado por incompetentes, e sua estrutura administrativa se tornou inepta neste ciclo do lulopetismo no poder. E todos estão enganados: o mercado, que desvalorizou o preço de mercado da Petrobras em mais de 60%; a SEC (CVM americana) e o Departamento de Justiça americano, que investigam o caso e o auditor externo (PwC), que até agora se recusa a assinar o balanço do terceiro trimestre do ano passado.
De nada valeriam as delações feitas por ex-altos funcionários da Petrobras, participantes do esquema, com cifras e nomes. Seria tudo um grande mal-entendido.