Na semana em que teve o seu nome citado pelo doleiro Alberto Youssef como um dos possíveis beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), começa a ser questionado por deputados aliados ao Planalto. Durante o voo que a presidente Dilma Rousseff fez até Ipojuca (PE) para entregar um navio petroleiro e batizar outro, ela ouviu de aliados que Cunha já recebe cobranças da base parlamentar que o elegeu em fevereiro, inquieta com o não cumprimento de algumas promessas de campanha feitas pelo peemedebista.

Segundo apurou o Correio, para convencer alguns integrantes da base aliada a votarem nele — e não no candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP) —, Cunha teria prometido uma espécie de jogo duplo: fortaleceria a pauta da Câmara, mas, ao mesmo tempo, usaria a prerrogativa do cargo que ocupa para negociar espaços para os aliados no governo federal.

O presidente da Câmara não teria, contudo, contado com o acirramento na disputa pelo comando da Mesa Diretora e, agora, estaria com dificuldades para “entregar as faturas” que prometeu, segundo palavras de um parlamentar que estava no voo. Como o peemedebista tornou-se inimigo do governo, as portas para ele no segundo e terceiro escalões foram fechadas.

No Senado, mesmo tendo adotado uma postura de independência em relação ao Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conseguiu emplacar Jorge Bastos na presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Fernando Mendes na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com parlamentares presentes no voo, Dilma não esboçou nenhuma reação ou teceu qualquer comentário ao ouvir as avaliações dos parlamentares da base.

Um dos principais aliados do presidente da Câmara, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), afirma que as declarações de um possível enfraquecimento no prestígio de Eduardo Cunha foram dadas por parlamentares que queriam “bajular” a presidente Dilma Rousseff por terem sido convidados a estar presentes no voo. E que essa avaliação não guarda qualquer relação com a realidade.

“Todas as grandes derrotas do governo na Câmara, como a aprovação da PEC da Bengala, por exemplo, foram impostas por Cunha”, declarou Vieira Lima. Além disso, ele lembra que todas as promessas feitas pelo peemedebista para se eleger foram cumpridas, inclusive, distribuindo cargos para os aliados na estrutura da Câmara. “Ele deu a presidência da Comissão da Reforma Política para o DEM; a presidência da Comissão de Constituição e Justiça para o PP e colocou o Antonio Imbassahy (PSDB) como vice-presidente da CPI da Petrobras. Os eleitores de Cunha estão muito satisfeitos com ele”, provocou o peemedebista baiano.

PDT adia debandada

Após votar contra as medidas provisórias que fazem parte do ajuste fiscal na Câmara dos Deputados, o PDT adiou a decisão sobre sair da base do governo. Em reunião ontem, no Rio de Janeiro, o diretório nacional da sigla decidiu ficar, por enquanto, com a gestão de Dilma, na qual tem o Ministério do Trabalho. A decisão de eventualmente tornar-se oposição ficou para a executiva da sigla, que se reúne daqui a um mês.

O diretório é composto por 250 integrantes do partido e a executiva, por 40. Na semana retrasada, uma crise foi deflagrada com o Planalto, porque todos os 19 deputados do partido votaram contra as MPs 664 e 665. Elas mudam o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários. O partido ficou contra o Planalto, assim como alguns parlamentares do PP, mesmo com o esforço do governo para que a base votasse a favor.

A reunião foi repleta de críticas ao governo. Houve quem defendesse claramente a saída da base, como o senador Cristovam Buarque (DF). Apesar de não ter havido decisão, Lupi disse que a possibilidade de cisão é alta. “Continuando o governo nesse rumo, é bem provável a saída”, admitiu Lupi. O PDT ocupa o Ministério do Trabalho, cujo titular é Manoel Dias, que esteve no encontro e ouviu as críticas dos colegas. “Temos divergências com a política econômica hoje comandada pelo ministro Joaquim Levy. O partido tem. Somos um partido de esquerda. Como um partido de esquerda, eu sou socialista”, disse Dias.

O consenso no PDT é de que fica difícil continuar apoiando o governo se ele não mudar determinadas posições. “O que está claro é que não vamos seguir o governo em votações nas questões que firam nossos princípios. O Planalto tem que dizer qual é o campo que ele quer. Se vai continuar arrochando salários e diminuindo direitos do trabalhador ou se vai querer ir em cima dos bancos, com lucros exacerbados”, disse Lupi. Apesar de fechar questão para votar contra as MPs do ajuste, o PDT deve votar a favor do projeto da desoneração da folha de algumas empresas.

Outras decisões

No encontro, o PDT também resolveu “fechar questão” e estabelecer consenso entre os parlamentares para votar contra o projeto que reduz a maioridade penal para 16 anos. Ainda foi aprovado um documento que critica a submissão da política econômica do governo da economia ao Fundo Monetário Internacional (FMI).