A economia brasileira está “parada”, mas pode melhorar, no próximo ano, a partir dos ajustes que estão sendo feitos pelo governo, disse ontem a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Segundo ela, os países emergentes não estão tendo desempenho tão bom quanto a instituição previa, e o Brasil, nesse grupo, é o um exemplo negativo. Lagarde, no entanto, considera que política fiscal conduzida pela equipe econômica é “crível”.

“As medidas adotadas são uma combinação de política fiscal séria com ancoragem (de expectativas) a médio prazo”, afirmou ela. Lagarde lembrou que a projeção do FMI é de que a economia brasileira encolha 1% este ano, mas volte ao terreno positivo a partir de 2016, “desde que as medidas fiscais sejam adequadamente adotadas”. O Fundo espera que o Brasil tenha expansão de 1% em 2016 e de 2,2% no ano seguinte.

O FMI e o Banco Mundial fazem nesta semana, na capital norte-americana, o encontro de primavera, em que as instituições e representantes dos governos dos países-membros discutem o cenário econômico global. Ontem, Lagarde teve uma reunião com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Embora esteja otimista com o desempenho do Brasil a médio prazo, o FMI alerta que o país é um dos ameaçados de enfrentar instabilidade financeira devido ao grande endividamento do setor privado e do rápido crescimento do crédito.

Como grande parte das dívidas de empresas e de bancos são em moeda estrangeira, a economia sofre com a alta do dólar, que vem ocorrendo desde meados do ano passado e tende a se acentuar quando os juros começarem a subir dos Estados Unidos.

O problema foi apontado em um documento divulgado por Lagarde, que cita o Brasil, ao lado de Argentina e Nigéria no grupo dessas economias, que também sofrem com a queda das receitas obtidas com a exportação de commodities. No documento, a diretora-gerente do Fundo recomenda aos países emergentes que façam reformas para aumentar a produtividade da economia e melhorar o nível da educação pública.

Lagarde voltou a mencionar o Brasil ao responder a uma pergunta sobre a América Latina. Segundo ela, algumas economias da região estão sofrendo mais do que outras e a brasileira foi, “provavelmente, a que mais sofreu, nos últimos meses, em termos de perda de receita”. O quadro global também é de disparidades, observou a economista. “A recuperação nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Índia ganha dinamismo, mas em outros lugares o crescimento ficou abaixo das expectativas, incluindo alguns grandes países emergentes, como Brasil e Rússia.”

Reforma

Lagarde ainda lamentou que o Congresso dos Estados Unidos ainda não tenham ratificado a reforma do sistema de cotas da instituição. Acertada em 2010, a mudança daria aos países emergentes mais poder para influir nas políticas adotadas pelo FMI. “Entendo por que os demais países estão frustrados”, afirmou.