Título: Empresários de fachada
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 01/08/2011, Brasil, p. 6

O Correio analisou os principais inquéritos da Polícia Federal (PF) envolvendo o tráfico internacional de drogas e conversou com delegados e especialistas que revelam atuações distintas: estrangeiros agindo como mulas, cuja atribuição é apenas transportar a mercadoria, e como grandes empresários com negócios lícitos, montados exclusivamente para camuflar o crime. A maioria dos inquéritos tramita em São Paulo.

No ano passado, a PF identificou uma quadrilha que encomendava a droga no Paraguai, trazia para o Brasil e, depois, a remetia para países da África e da Europa, especialmente a Itália. Para o transporte, eram usados contêineres de navios, simulando uma exportação.

A droga era acondicionada no interior de chapas na oficina de Carlos Godoy, em Ciudad del Leste, no Paraguai. O estrangeiro morava há mais de 15 anos em Campinas (SP) e tinha documentos falsos. Casado com uma brasileira, o traficante teve dois filhos no país.

O contêiner era, então, recebido pelo cubano Nelson Yester-Garrido, por Alexander Sandev (nacionalidade não informada) e pelo sul-africano de origem grega Christopher Couremetis. Uma empresa de fachada ¿ a Tomcat Techincal Transport ¿ em Joanesburgo, na África do Sul, criava a imagem do negócio lícito. De lá, a droga partia para uma fazenda no Zimbábue. Yester-Garrido estava na lista de traficantes mais procurados pelos Estados Unidos e utilizava mais de 30 nomes.

Frutas A PF também deflagrou operações contra estrangeiros que viviam no Nordeste do Brasil e mantinham enormes fazendas produtoras de frutas. A droga era enviada para a Europa em meio aos produtos colhidos. Em um único dia, em outubro, 2005, a polícia apreendeu quase 2 milhões de euros na França. No mesmo ano, foram descobertos traficantes da América do Sul que montaram um esquema de remessa de drogas camufladas em carnes bovinas congeladas.

"O país é usado como rota para os traficantes que recebem o entorpecente da Colômbia, do Peru, da Bolívia e do Paraguai e o exportam para a Europa. Em quase 90% dos casos, funciona dessa maneira. O importante é desarticular a organização criminosa por meio dos financiadores", afirma o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo. (AR)