Título: A legião que entra pela floresta
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 01/08/2011, Brasil, p. 6

Manaus, Rio Branco e Porto Velho ¿ Os dados sobre a entrada de estrangeiros no Brasil incluem investigações policiais sobre a atuação de coiotes e agenciadores que ajudam migrantes com os vistos negados a entrar de forma clandestina no país. Nos últimos três anos, a entrada ilegal ocorreu principalmente pelos estados do Norte brasileiro e envolveu haitianos, indianos e chineses, além de bolivianos, peruanos e colombianos. Gente que aproveita a imensidão da Floresta Amazônica e paga para criminosos evitarem que eles tenham de se submeter aos processos legais e à fiscalização das fronteiras.

No Acre, a Polícia Federal investiga a atuação de taxistas que não apenas ajudavam estrangeiros a entrar no país de forma clandestina, como atuavam no comércio de passaportes. A depender do destino pretendido pelo estrangeiro, o documento é vendido por até US$ 3 mil. O comércio de passaportes fez com que a Polícia Federal reforçasse o posto que atende as cidades de Brasileia e Epitaciolândia, dois municípios localizados na fronteira com a Bolívia, onde estão dezenas de haitianos que chegaram ao estado, muitas vezes de forma clandestina. Boa parte dessas pessoas deixou o país caribenho após o devastador terremoto de janeiro de 2010.

No Amazonas, os policiais investigam a atuação de criminosos que teriam aliciado dezenas de haitianos prometendo trazê-los para o Brasil em troca do pagamento de US$ 2 mil. Em junho, a Polícia Federal prendeu Repert Julien, 28 anos, depois que ele foi citado pelos haitianos como o responsável por "vender o trajeto" até o Brasil e trabalhar para driblar a fiscalização na fronteira.

As investigações sobre a atuação de coiotes no estado envolvem até um padre, que trabalha na cidade de Tabatinga, a cerca de 500km de Manaus. Ele foi citado pelos haitianos como uma das pessoas que teriam colaborado no processo de entrada dos grupos. A polícia ainda não concluiu a apuração. "Quando os estrangeiros chegam aqui, são entrevistados e analisamos seus históricos de vida. Entramos em alerta quando as histórias são estranhas e envolvem gente que se propôs a ajudá-los na travessia", explica o delegado Charles Gonçalves, da Polícia Federal.

A entrada ilegal de migrantes chineses, cujo destino é São Paulo e a Região Centro-Oeste do país, também tem deixado em alerta a Polícia Federal de Rondônia. Há dois anos, uma megaoperação desbaratou uma quadrilha de coiotes que, assim como no Acre, era formada por alguns taxistas que faziam o transporte dos estrangeiros até a capital paulista. A quadrilha também tinha entre seus integrantes alguns donos de pequenos hotéis ao longo da BR-364, que liga Porto Velho ao restante do Brasil. O esquema era chefiado por um chinês residente em São Paulo que acabou preso pela Polícia Federal em 2009.