O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi escolhido ontem para ocupar a presidência do Conselho de Administração da Petrobras em meio à corrida da estatal para divulgar seu balanço auditado e aplicar a baixa contábil (desconto) em seus ativos relativos à corrupção denunciada na Operação Lava-Jato. Na reunião do Conselho de Administração da petroleira realizada ontem no Rio, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega renunciou ao cargo. O mandato de Coutinho e o dos demais nove outros membros do conselho são válidos até a próxima Assembleia Geral Ordinária, prevista para o fim do mês de abril.

Segundo uma fonte, Coutinho deve ficar na presidência do Conselho até o dia 29 de abril, quando a empresa espera já ter conseguido publicar seu balanço auditado. O objetivo é evitar que um novo nome indicado para ocupar o cargo de forma definitiva se desgaste com a divulgação dos resultados. A expectativa do governo é que o novo presidente seja mesmo um nome do mercado, assim como os demais conselheiros. Segundo fontes, a renúncia de Mantega teria ocorrido sem o aval do governo.

- O nome de Coutinho não foi unânime entre os conselheiros. Por isso, venceu pela maioria dos votos - disse uma fonte, que pediu para não ser identificada.

Na reunião de ontem, foi feita uma apresentação da metodologia que a companhia pretende adotar para fazer a baixa contábil nos ativos. Segundo uma fonte, não se chegou a um consenso sobre a fórmula, que precisa passar pelo crivo dos órgãos reguladores. O mercado reagiu mal à notícia, que contraria a promessa do governo de buscar profissionais do mercado.

- O presidente do conselho de uma empresa devedora é o presidente de um banco credor. Isso é um péssimo sinal para o mercado - afirmou José Kobori, professor do Ibmec/DR.

Até o fim do ano passado, a Petrobras somava R$ 40,4 bilhões em financiamentos com o BNDES. Ao todo, o banco tem R$ 109,4 bilhões em empréstimos às empresas do setor de óleo e gás.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, a nomeação de Coutinho, que não era esperada pelo mercado, não representará mudanças na condução da companhia.

- O mercado vai fazer uma leitura negativa da nomeação, já que não representa um sinal positivo de transformação na companhia. Talvez isso possa ser uma estratégia de ajudar a capitalizar a companhia por meio do BNDES - disse Velho.

Conselho tem vaga em aberto

Giovanni Falcetta, sócio do Aidar SBZ Advogados, diz que a escolha é "pouco confortável" para o mercado:

- Nomear uma pessoa que já foi indicada pelo governo põe em discussão o quanto as decisões dele serão para o bem do negócio ou para evitar um problema político. Vejo a mistura com muita reserva.

Haroldo Lima, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), ressalta que a nomeação de Coutinho segue a mesma lógica da escolha de Aldemir Bendine para a presidência da estatal em fevereiro:

- O problema central é que a empresa vive um problema financeiro, por isso, a liderança da companhia é formada por nomes ligados ao setor financeiro. Mas é importante que a Petrobras mude isso a médio prazo, com nomes ligados diretamente ao setor de petróleo e gás - disse Lima.

O advogado Ricardo Negrão, sócio-fundador do N, FyBC, destaca que a escolha não foi a melhor, considerando a crise vivida pela Petrobras:

- Do ponto de vista jurídico, nada impede que ele assuma a presidência do Conselho. Porém, acredito que, neste momento em que a Petrobras está, colocar no cargo alguém que representa um grande credor da companhia não é a saída mais aconselhável.

As nomeações para o conselho de Coutinho, de Bendine e do advogado Luiz Navarro - em substituição ao secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, na reunião de 27 de fevereiro - serão renovadas ou não na próxima Assembleia Geral Ordinária, em abril, quando vencem os mandatos de todos os dez membros do Conselho.

Dos sete conselheiros que representam a União, o governo já fez três mudanças. Ao assumir a presidência do conselho, Coutinho deixa uma vaga em aberto. Permanecem nos cargos como representantes da União o general Francisco Roberto de Albuquerque, o vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, Sérgio Quintela, e a presidente da Caixa, Míriam Belchior. Permanecem nos cargos três conselheiros independentes: Mauro Cunha, representante dos minoritários donos de ações com direito a voto, José Monforte, representante dos detentores de ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e Sílvio Sinedino, representante dos funcionários da Petrobras, que será substituído por Deyvid Bacelar, da Federação Única dos Petroleiros (FUP) da Bahia.