A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país subiu para 5,9% em fevereiro, contra 5,1% no mesmo mês do ano passado, com corte de vagas na indústria e também no setor de serviços. A piora no emprego e o avanço da inflação fizeram a renda dos trabalhadores cair 0,5% no mês passado, a maior perda em quase 10 anos. E o Banco Central traçou um cenário mais pessimista para este ano. O relatório de inflação do BC prevê alta de 7,9% para os preços e queda de 0,5% no PIB. A crise gerada pelo crescimento econômico baixo e inflação alta chegou aos salários.
A renda do brasileiro caiu 1,4% na passagem de janeiro para fevereiro e, na comparação com um ano antes, registrou queda de 0,5%, a maior em quase dez anos, segundo dados da pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, nas seis principais regiões metropolitanas do país. Em relação a janeiro, houve queda nominal da renda de 0,3%, ou seja, os salários médios encolheram mesmo quando a conta desconsidera o impacto da inflação. Ao mesmo tempo, o desemprego chegou a 5,9% em fevereiro, contra 5,1% em igual mês de 2014. A taxa superou as expectativas de analistas de mercado e a foi a maior para o mês desde 2011. Em janeiro deste ano, o desemprego também foi menor: 5,3%. 
Com a perspectiva de inflação perto de 8%, o ano de 2015 deve terminar com queda na renda, interrompendo dez anos seguidos de ganhos reais. A trajetória de alta começou em 2005, quando os salários subiram 1,5% acima da inflação. E renda menor empurra mais gente para o mercado de trabalho, no esforço para fechar o orçamento da família. 
229 mil vagas fechadas
Nos dois primeiros meses deste ano, o mercado trabalho registrou uma combinação de fechamento de vagas e aumento da procura por emprego. Entre janeiro e fevereiro, houve queda de 1% na ocupação, o que significou menos 229 mil pessoas empregadas nas seis regiões. Já em comparação com fevereiro do ano passado, a população empregada recuou 0,9%. Segundo o IBGE, o movimento pode só não ter sido maior em razão do feriado de carnaval. 
A ocupação vai continuar piorando este ano, e o cenário de alta para o desemprego é de piora no poder de barganha do trabalhador - afirma Fabio Romão, da LCA Consultores. 
A inflação não agiu sozinha sobre a renda. Economistas já veem influência da alta do desemprego sobre o poder dos trabalhadores na hora de negociar salários e reajustes. As negociações de 2015 já vêm ocorrendo sem aumento real ou com ganho muito pequeno, de acordo com Hélio Zylberstajn, coordenador do projeto Salários, da Fipe, que acompanha negociações coletivas: - Vemos um aumento muito rápido do desemprego. Quando isso ocorre, o poder de barganha diminui. Ao lado de uma inflação em torno de 8%, é uma situação dramática para o trabalhador. 
A perda de renda foi maior entre os trabalhadores informais. Se na média o recuo foi de 0,5% frente a fevereiro de 2014, entre os empregados sem carteira assinada essa queda chegou a 4,3%, para R$ 1.542,20. Já os trabalhadores por conta própria viram sua renda cair 3,8%, para R$ 1.848,30. 
Na passagem de janeiro para fevereiro, a renda recuou em cinco das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. A exceção foi Recife, com ganho de 2,4%. A queda mais acentuada ocorreu em São Paulo, 2,3%. No Rio, a renda caiu 1,4%, em Salvador, 1,1%, Porto Alegre, 0,5% e Belo Horizonte, 0,4%. Em relatório, a Rosenberg & Associados destacou que a perda ocorreu, apesar do aumento real de 2,5% do salário mínimo. 
O resultado da pesquisa deixou clara a deterioração do mercado de trabalho. A perda da atividade econômica limita a geração de vagas, e este é o cenário que veremos em 2015 - diz o economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti. 
O dinheiro mais curto no bolso do brasileiro teve reflexo direto nos empregos do setor de serviços pessoais, como manicure, cabeleireiro, alimentação e hotelaria. Sozinho, o segmento respondeu a 165 mil dos 229 mil vagas extintas mês passado. 
Com menor renda disponível existe uma busca por um controle maior das contas e reflexo sobre serviços - afirmou o superintendente de Economia da Fecomércio-Rio, João Gomes. 
Segundo ele, as famílias estão se dizendo que este é o momento dos cortes. 
Pode haver um aumento da procura por emprego e uma tendência de desaceleração da renda, mas, no segundo semestre, muda a curva, com a retomada da confiança das famílias - acrescenta. 
Segundo a gerente da pesquisa do IBGE, Adriana Beringuy, a queda no poder de compra pode estar relacionada ao corte de vagas em setores que pagam mais. 
Pode ser que os setores onde houve dispensa, principalmente a indústria, com rendimento médio mais alto, tenham impactado - afirmou ela. 
Em relatório, o Bradesco destacou que a perda de fôlego dos ganhos salariais fortalecem o cenário de arrefecimento importante da inflação de serviços.