Não foram apenas quadros e obras de artes apreendidas há uma semana na casa do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, no Rio, que chamaram a atenção da Polícia Federal. Num quarto secreto, onde só era possível entrar com a ajuda de um controle remoto, os policiais federais encontraram um pequeno tesouro: entre joias, relógios e documentos, um conjunto de cerca de 30 canetas Montblanc, ainda conservadas em caixas, com o símbolo da GDK, empresa de óleo e gás que presta serviço para a Petrobras e que ficou conhecida nacionalmente em outro escândalo: no mensalão foi quem presenteou Sílvio Pereira, ex-secretário do PT, com um carro Land Rover.

A empreiteira e o seu presidente, o empresário César Roberto Santos Oliveira, apareceram na nona fase da Lava-Jato, que foi deflagrada no início de fevereiro deste ano a partir do acordo de delação premiada do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. Os policiais federais não sabem dizer como as canetas foram parar no quarto secreto. Para a PF, César se aproximou de Renato Duque, apontado como operador do PT no esquema de corrupção na Petrobras, para manter sua influência na estatal depois que Sílvio Pereira caiu em desgraça. Durante a operação da nona fase (batizada de "My Way"), pelo menos dez malotes foram apreendidos na sede da GDK, em Salvador. A empresa também havia sido citada em janeiro em depoimento do doleiro Alberto Youssef.

Símbolo de status, uma caneta Montblanc pode custar mais de R$ 1 mil, segundo site do fabricante. As caixas estavam guardadas em prateleiras dentro do quarto secreto descoberto pela PF. Os policiais federais acreditam que as canetas eram usadas por Duque para presentear os amigos.

- É um detalhe curioso, que mostra como o mundo dos negócios é pequeno e promíscuo - disse um policial federal.

Nota de quadro de Volpi

Os policiais também encontraram na sala material valioso para investigações que reforçam a ideia queDuque estava usando obras de artes para lavar dinheiro obtido com corrupção. Foram encontradas notas de compra e venda de obras de arte. A PF não informou a quantidade. Uma das notas era de uma transferência bancária da compra de um quadro de Alfredo Volpi, no valor de R$ 400 mil. Volpi é considerado um dos mais brilhantes artistas da segunda geração do modernismo.

- Na sua declaração de bens, Duque diz que não tinha mais que R$ 50 mil investido em obras de artes. A apreensão apenas dessa nota de transferência bancária revela uma discrepância e reforça a tese de lavagem de dinheiro - contou o mesmo policial federal encarregado de analisar o material apreendido.

No dia da prisão de Duque, os policiais federais já ficaram surpresos com a grande quantidade e variedade de quadros e gravuras apreendidos no apartamento duplex na Barra da Tijuca: 131 ao todo, entre pinturas a óleo e gravuras atribuídas a Miró, Guignard, Djanira, Heitor dos Prazeres, Roberto Magalhães, Rubens Gerchman, Rosina Becker do Valle e Carybé, entre outros. A autenticidade do material já está sendo avaliada pelos técnicos do Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, para onde foi levado.

- Segundo informou uma pessoa ouvida por nós, a grande quantidade de obras na casa de Duque não era propriamente uma coleção, já que não faziam sentido entre si. É um conjunto questionável, o que reforça a tese de uma compra para ocultar patrimônio, com fortes indícios de que foram compradas para lavar dinheiro da corrupção - disse o policial federal ao GLOBO.