Em seu terceiro depoimento a uma CPI que investiga irregularidades na Petrobras, a ex-presidente da estatalGraça Foster afirmou ontem que se sente envergonhada e constrangida pela corrupção detectada nas investigações da Operação Lava-Jato. A fala de Graça durou sete horas e foi o mais longo depoimento concedido a essa CPI. Ela disse estar com vergonha ao se referir às irregularidades detectadas na construção da rede de gasodutos operada pela Gasene, reveladas pelo GLOBO.

- Ouvi dizer que houve propina. Eu teria imenso orgulho de ter trabalhado nesse projeto. Continuo muito orgulhosa, mas envergonhada pela propina - afirmou.

- Entrei nas outras CPIs com muito mais coragem do que entrei hoje aqui. Tenho um constrangimento muito grande de olhar para vocês - declarou.

A ex-dirigente discordou do ex-presidente da Petrobras, que a antecedeu, José Sérgio Gabrielli, que disse à comissão, na semana passada, que o dinheiro de propina paga a ex-executivos da petroleira saiu do lucro das empreiteiras, e não de superfaturamento nos contratos realizados com a estatal. Para ela, os recursos para esses subornos devem ter sido embutidos nos preços pagos pela companhia.

- Se teve que pagar propina, vai jogar no preço e quem paga a conta é a Petrobras. Esse é um entendimento primário que tenho. Não consigo entender que se pague propina da própria margem de lucro. Por isso, quem perdeu foi a Petrobras - disse Graça.

Dúvida sobre Barusco

Ao se referir a comentário de outro depoente na CPI, Graça colocou em dúvida a possibilidade de o ex-gerente Pedro Barusco ter recebido, sozinho, US$ 67 milhões de propina - com os juros US$ 97 milhões (cerca de R$ 300 milhões) - que aceitou devolver. Barusco afirmou à CPI que durante um período, no final do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), recebeu propina, mas que atuava isoladamente.

- Tenho dificuldade de aceitar como um gerente possa receber uma vantagem por alguma coisa sem que outro soubesse. Acho que nosso colega Barusco pode não ter falado tudo porque está num processo de delação premiada. Não consigo imaginar que uma pessoa no meio da estrutura possa fazer uma coisa isoladamente - afirmou.

A ex-presidente disse que o escândalo da Petrobras melhora a gestão da empresa:

- Não vamos esquecer nunca do ano de 2014. A Lava-Jato muda a Petrobras para muito melhor.