BRASÍLIA e RIO

O discurso de humildade e diálogo com a sociedade adotado por Dilma foi extensivo a todos os integrantes do governo que se manifestaram ontem sobre os protestos de domingo. Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Eduardo Braga (Minas e Energia) disseram que o governo recebeu os protestos com humildade, palavra repetida seis vezes por Braga.

- É uma proposta de diálogo real. Esse é o papel que o governo deve fazer, agindo com firmeza, mas com humildade. Ser humilde, muitas vezes, é o inverso de ser tíbio. Para ser humilde no exercício do poder é preciso ser firme - disse Cardozo.

Humildade também foi a palavra usada pelo vice-presidente da República, Michel Temer, ontem, para descrever como aconselhou Dilma a enfrentar as manifestações ao também participar da reunião da coordenação política, no Planalto, no início da manhã.

- O diálogo, que é fundamental, deve ser pautado na humildade, inclusive no reconhecimento de um ou outro equívoco - disse Temer, ao discursar num almoço na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). - Quando ouvimos o clamor das ruas é porque alguma coisa está errada.

Os auxiliares de Dilma afirmaram que ela recebeu as manifestações com espírito democrático.

- A presidente é uma mulher que tem um arraigado espírito democrático. Ela tem uma característica das mulheres brasileiras: ela é muito firme - disse Cardozo.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) disse que as manifestações servem de alerta para o governo melhorar o diálogo com sociedade e Congresso:

- As ruas mostraram que querem mudança. Ou fazemos ou as ruas nos engolem.

O senador Humberto, Costa, alvo de um dos inquéritos da Operação Lava-Jato, disse que o PT sofreu um desgaste junto com o governo e defendeu a renovação do partido:

- O PT está vivendo um momento de dificuldade e precisa reagir. Mas essa reação precisa ter uma intensidade maior. É uma autorrenovação. Os 12 anos (no governo) distanciaram um pouco o partido da sociedade.

Em entrevista à rádio Gaúcha de Porto Alegre na manhã de ontem, o senador Aécio Neves (PSDB) afirmou que Cardozo e Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência da República, que falaram em nome do governo após as manifestações de domingo, "não entenderam absolutamente nada":

"A presidente escala dois ministros que parece que não estavam no Brasil, não estavam sequer no planeta Terra. O ministro Rossetto chegou a dizer que quem estava na rua eram aqueles que não votaram na presidente. Eu me sinto até homenageado por essa afirmação de que todos que foram para as ruas eram meus eleitores. Se fosse assim, certamente eu teria vencido as eleições e o Brasil não assistiria a um depoimento tão patético".

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também criticou os ministros:

- Achei um desastre, cada um falando uma coisa. (Colaborou Alexandre Rodrigues)

 

PARA LÍDER DO PT NA CÂMARA, CIA QUER ENFRAQUECER GOVERNOS

Sibá machado postou suspeita no facebook na véspera da manifestação

Líder do PT na Câmara, Sibá Machado (PT-AC) postou em sua página no Facebook, no último sábado, véspera das manifestações, uma mensagem na qual dizia suspeitar que a CIA (Central Intelligence Agency), o serviço de inteligência dos Estados Unidos, esteja coordenando uma campanha pelo enfraquecimento de governos da América do Sul.

Sibá, que está em seu segundo mandato como deputado federal, escreveu: "SUSPEITA: Que a CIA esteja coordenando a Campanha pelo enfraquecimento dos governos da América do Sul "não alinhados", tal como fizeram para instalar as Ditaduras Militar nos anos 60. A 'Orquestra é completa!'"

O post do deputado teve, até ontem, 393 compartilhamentos, mas a maioria dos comentários - mais de 770 - criticava a postagem. Desde sábado, Sibá fez outras duas postagens na rede social, mas não se manifestou sobre as suspeitas que disse ter sobre a CIA.

'DILMA IN BLACK' NA HBO

Sátira

A corrupção na Petrobras e o panelaço viraram tema do humorístico americano "Last Week Tonight", da HBO, que foi ao ar anteontem e passou a ser compartilhado nas redes sociais e pelo aplicativo WhatsApp.

Numa bancada, fazendo uso de imagens do Brasil, o apresentador John Oliver satirizou a presidente Dilma ao intercalar os desvios na estatal - "mais de US$ 800 milhões de dólares", diz ele - com o pronunciamento no Dia da Mulher, quando Dilma pedia calma à população e "paciência e compreensão pois essa situação é transitória". Após a fala, Oliver se pergunta como a situação é transitória e manda um recado à presidente: "a menos que você esteja prestes a usar em todo o país um desses apagadores de memória dos Homens de Preto, eu não acho que as pessoas vão esquecer". Na tela, uma foto de Dilma com óculos igual ao dos personagens do filme.

Em seguida, Oliver apresenta o panelaço aos americanos e arranca risos ao mostrar que quando o deputado Bruno Araújo (PSDB-CE) bateu panela na Câmara, o intérprete de sinais fez o mesmo.

No vídeo de quase três minutos, Oliver lembra que Dilma foi presidente do Conselho da Petrobras por 7 anos, tendo sido absolvida de qualquer ligação com o esquema de propina. A partir dessa informação, faz um panelaço, sem esquecer o intérprete de sinais, que mexe de forma rápida as mãos.