O forte recuo da indústria afetou tão intensamente os Estados mais desenvolvidos - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - que provocou um deslocamento do crescimento: em 2014, segundo estudos do Banco Central, enquanto a economia do Sudeste caiu 0,8%, a da Região Nordeste subiu 3,7%. Não é um fenômeno inédito, pois o Nordeste já vinha crescendo mais rapidamente entre 2011 e 2013, mas a tendência se acentuou no ano passado.

Enquanto o Sudeste já sofria intensamente com a estagnação, o Nordeste ainda era beneficiado com políticas de distribuição de renda, de valorização real do salário mínimo e com programas sociais. Como resultado, as atividades do varejo cresceram 2,1% - enquanto caíam 3,5% no Sudeste -, os serviços avançaram 6,3%, mais do que os 5,6% registrados no Sudeste, e o emprego formal aumentou 0,6%, bem acima do 0,1% do Sudeste. Até a indústria do Nordeste caiu menos (0,3%) do que a do Sudeste (4,6%).

Os dados do Banco Central são abrangentes, incluindo oferta de crédito e consumo de energia, permitindo observar mais profundamente o que se passa com a atividade regional. É o que reflete o Índice de Atividade Econômica Regional do Banco Central, que também identificou uma expansão maior da região, provocada pelo comportamento da agricultura. Houve melhor comportamento dos investimentos, segundo especialistas, registrando-se uma expansão das áreas de plantio.

Mas a situação favorável ao Nordeste tende a se modificar em 2015 - e entre os motivos está a maior dependência de recursos públicos, num período em que o governo federal será obrigado a conter despesas para melhorar a situação fiscal.

Em 2015, o Nordeste deverá ter o primeiro ano de recessão desde 1998, previu um economista da consultoria LCA, Paulo Neves, ao jornal Valor. Os dados do fim do ano passado já mostravam essa tendência.

É possível que o ciclo de crescimento de longo prazo do Nordeste não esteja esgotado, pois o PIB por habitante da região ainda corresponde a cerca da metade do PIB por habitante brasileiro e as políticas de fortalecimento das regiões menos desenvolvidas não deverão ser abandonadas.

Mas a intensidade da recessão não deverá poupar regiões inteiras neste ano. Os governos têm de cortar gastos e os reajustes de preços administrados afetarão a renda das famílias. Nem mesmo o Nordeste deverá sair ileso.