RIO E CURITIBA

Apreensão. Agentes da PF retiram malas com documentos da casa de Renato Duque

Alexandre Cassiano

Agentes surpreendidos

Durante o cumprimento da ordem de prisão de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, 131 obras de arte foram apreendidas na casa dele na Barra da Tijuca, entre elas uma coleção assinada por artistas brasileiros como Guignard, Djanira e Heitor dos Prazeres. Parte do acervo estava escondido num cômodo secreto com refrigeração própria, segundo a PF. Com assinatura de Guignard, seriam dez peças. Não foi feita ainda uma avaliação das obras, que serão levadas para o Museu Niemeyer, em Curitiba.

Os policiais chegaram às obras de arte quando desconfiaram do tamanho de um dos cômodos da casa. Na inspeção, descobriram uma passagem secreta. Além das obras, foram encontrados documentos de Duque que, segundo as investigações, podem ajudar no rastreamento do dinheiro que ele depositava no exterior.

Esta não é a primeira vez que obras de arte são apreendidas na Operação Lava-Jato. No mundo todo, compra e venda de obras de arte é um instrumento normalmente usado para lavagem de dinheiro.

Quatro agentes da PF ficaram na residência por cerca de seis horas, segundo moradores. O advogado do ex-diretor da Petrobras, Alexandre Lopes, disse que foram retirados quadros, esculturas e até canetas da casa. Para o advogado, a ação da PF foi ilegal, já que os bens foram adquiridos ao longo da vida de Duque e nada têm a ver com o esquema na estatal.

Por volta das 11h50m, dois agentes da PF saíram do prédio carregando malotes com o material apreendido. Ao meio-dia, o carro da PF entrou na garagem do prédio e saiu com Duque sentado no banco traseiro, ao lado de policiais. O veículo seguiu trajeto pela Zona Sul e desceu pela Leopoldina, chegando à PF pela Via Binário.

Moradores se mostraram a favor da prisão do vizinho. Alguns diziam "tem que prender mesmo". Enquanto passeavam com cachorros e levavam filhos à escola, as pessoas perguntavam à equipe do GLOBO se já haviam "prendido o corrupto". Mas não houve concentração de curiosos em frente ao prédio de Duque.

No início deste ano, 16 obras apreendidas pela PF foram expostas pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Entre as pinturas, encontradas na casa e no escritório da doleira Nelma Kodama, há trabalhos assinados por Di Cavalcanti, Cícero Dias e Iberê Camargo. Kodama foi condenada a 18 anos de prisão em outubro por organização criminosa, evasão de divisas, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Além das obras apreendidas na casa de Duque, a PF divulgou que obras de arte também foram apreendidas na casa do empresário Adir Assad, em São Paulo, e irão para o Museu Oscar Niemeyer. A quantidade de peças não foi divulgada.

 

ADIR ASSAD, TRAJETÓRIA DE ESCÂNDALO EM ESCÂNDALO

 

SÃO PAULO

Preso ontem na operação Lava-Jato, o empresário Adir Assad não é um desconhecido da Polícia Federal nem da Justiça. De origem libanesa e ligado a empresas que vão de terraplanagem a organização de eventos, Assad já teve seu nome envolvido no escândalo de corrupção da construtora Delta, em 2012. Ontem, ele foi preso em São Paulo, onde ficam as sedes das empresas atribuídas a ele, assim como a empresária Sonia Mariza Branco, considerada pela PF como uma das operadoras do esquema que liga Assad ao doleiro Alberto Youssef.

A Justiça Federal decretou o bloqueio de bens de Assad, de suas empresas e de mais investigados, estimados em R$ 40 milhões. As investigações apontam para uma série de empresas ligadas a ele que emitiriam notas fiscais fraudulentas para viabilizar o desvio de recursos da Petrobras.

O juiz da Operação Lava-Jato, Sérgio Moro, escreveu no mandado de prisão: "O grupo criminoso dirigido por Adir Assad insere-se neste contexto. Presente prova de seu envolvimento direto na lavagem de dinheiro de cerca de R$ 40 milhões desviados das obras da Petrobras e no pagamento de propinas a Renato Duque e a Pedro Barusco (ex-diretor e ex-gerente da estatal)".

O próprio juiz remete o caso a outro escândalo: o da Delta, do empresário Fernando Cavendish, do Rio. Segundo o MPF, Assad estaria supostamente envolvido no desvio de R$ 421 milhões da construtora. O desvio seria feito por meio de notas fraudulentas e contratos superfaturados.

Em 2012, Assad foi convocado a depor na CPMI do caso Cachoeira, que investigou o escândalo da Delta. Munido de um habeas corpus, ficou em silêncio na audiência. Na ocasião, a Justiça teria decretado o bloqueio de seus bens, no valor máximo de R$ 250 milhões. Na época da operação policial na PF, teve de voltar ao Brasil às pressas. Estava em Paris.

Uma das empresas citadas no caso da Delta é a mesma usada agora, segundo o juiz Moro, no esquema de distribuição de propinas por empreiteiras contratadas pela Petrobras. Trata-se da Rock Star Marketing Ltda.

Assad é filho do comerciante e ex-cônsul honorário da Costa Rica no Brasil, Assad Mahamad. Tem duas filhas. Estudou engenharia a pedido do pai e, em 1988, em sociedade com a mulher, Sonia Regina, abriu sua primeira empresa: a Santa Sonia Empreendimentos Imobiliários, que tinha como objeto o comércio varejista de material de construção e administração de bens imóveis. Em 2012, passou a empresa às filhas.