BRASÍLIA

A economia brasileira teve contração de 0,11% em janeiro, segundo o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), criado pelo Banco Central para avaliar a evolução da atividade econômica e balizar as decisões de política monetária no país. O índice, que é uma prévia do resultado do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto dos bens e serviços produzidos no país) veio pior do que o esperado pelos analistas e sinaliza uma retração mais acentuada da economia em 2015.

- O índice ainda foi ajudado pela melhora nas vendas do varejo. Caso contrário, poderia ter sido pior - disse o economista André Perfeito, da Gradual.

Na última sexta-feira, o IBGE informou que as vendas no comércio iniciaram o ano em alta de 0,8% em relação a dezembro. No último mês de 2014, apesar do Natal, o setor varejista teve recuo de 2,6%, após sequência de quatro altas mensais seguidas. Os cálculos incluem um ajuste sazonal, ou seja, eliminam o efeito das variações típicas de cada mês do ano.

Ainda em dezembro, o IBC-Br caiu 0,57% sobre o mês anterior, de acordo com número revisado pelo BC, retração mais acentuada do que os 0,55% anunciados antes. Na comparação com janeiro do ano passado, o índice mostrou queda de 1,75% na atividade econômica. Já no acumulado em 12 meses, houve contração de 0,39%.

A Rosenberg Consultores Associados destacou, em nota, que a queda acumulada foi a pior desde dezembro de 2009, quando a economia encolheu 1,12%. A consultoria salientou que o recuo ocorre a despeito do aumento na margem verificado na indústria e no comércio, "sinalizando que os serviços também não estão no melhor dos mundos".

Para o ano fechado de 2015, a Rosenberg projeta queda de 1,5% no PIB. "Com ajuste fiscal, restrição monetária e a Operação Lava-Jato em curso, reduzindo investimentos e produção, além de incertezas quanto ao fornecimento de energia e água, a queda deve ser maior".

Rafael Bacciotti, da Tendências, concorda que o número de janeiro reforça a as perspectivas de retração da atividade econômica do país.

- O resultado negativo acumulado nos últimos 12 meses sinaliza como será o comportamento da economia nos próximos meses - disse Bacciotti.

 

'NINGUÉM MAIS ESPERA CRESCIMENTO'

 

Como analisa este momento econômico?

Não estou surpreso que os brasileiros manifestem nas ruas e estejam decepcionados. Vimos uma grande passividade das autoridades brasileiras durante os anos bons. Mas isso não me leva a uma opinião catastrofista sobre o Brasil. O país possui todos os meios de se recuperar, mas é verdade que haverá dois anos bastante difíceis pela frente. Mesmo que a política tenha sido orientada num sentido que penso razoável, será bastante custoso a curto prazo em termos de crescimento e custos para os brasileiros.

Quais são os principais problemas?

O maior problema é a questão das finanças públicas, à deriva em 2014. O Brasil não é um país superendividado, a dívida pública é de 60% do PIB. Mas o problema desta dívida pública é que ela custa muito caro. Ninguém mais espera crescimento do Brasil neste ano. Este é o principal problema, muito mais do que a balança de pagamentos, algo muitas vezes mencionado. No momento, o Brasil ainda pode facilmente financiar isso.

Como?

Primeiro, porque os investimentos diretos permanecem estáveis, o que é algo notável.

As medidas econômicas estão corretas?

Joaquim Levy atuou em caráter de urgência, pois se rumava para um rebaixamento pelas agências de rating, o que implicaria num preço mais alto a pagar pela dívida brasileira. No fim de 2014 as contas públicas estavam sem rumo.