Presidida pelo senador Aécio Neves (MG), a direção executiva nacional do PSDB decidiu intervir nos diretórios municipais que, para a cúpula tucana, não se empenharam o suficiente nas campanhas estaduais e presidencial do partido em 2014. A medida deve afetar cerca de um terço dessas regionais e foi definida um mês antes da eleição para escolha dos dirigentes nacionais da legenda pelos próximos dois anos.

Em reunião fechada ontem na sede do PSDB em Brasília, os tucanos estabeleceram uma "cláusula de desempenho": os diretórios municipais que não obtiveram pelo menos 6% dos votos válidos do respectivo Estado, porcentual equivalente à metade da média de desempenho nacional do partido, terão suas direções obrigatoriamente renovadas. No caso dos diretórios estaduais, a renovação ocorrerá nas unidades federativas em que o PSDB tiver representação em menos de 10% das cidades.

"Percebemos em determinados diretórios que não houve empenho com as candidaturas colocadas pelo partido. Queremos acabar com os cartórios que existem no PSDB", afirmou Aécio ontem aos jornalistas.

O senador evitou dizer quais seriam as cidades e Estados mais afetados pela intervenção, mas, segundo um deputado que participou do encontro, os locais mais problemáticos são Sergipe, Maranhão, Tocantins e Piauí. A expectativa da cúpula tucana é que pelo menos 30% dos diretórios municipais do partido passarão por uma troca forçada de comando.

"Isso permitirá que dirigentes estaduais reorganizem o partidos nos municípios sem constrangimento", afirma João Almeida, diretor de gestão corporativa do PSDB nacional.

O principal objetivo do partido neste momento é fortalecer sua estrutura orgânica principalmente nos Estados do Nordeste, onde a presidente Dilma Rousseff teve sua maior votação contra Aécio nas eleições do ano passado e o PT se sobrepôs aos tucanos desde a chegada do partido ao Palácio do Planalto. "O PSDB vai crescer de forma consistente com essa medida, e no Brasil inteiro", avaliou Felipe Sigollo, presidente do conselho fiscal da legenda.

Para ele, a intervenção eliminará caciques locais que usam o partido como instrumento político. O PSDB detectou casos em que os dirigentes locais apoiam candidatos ou governantes que são adversários dos tucanos no plano nacional.

Filiação. Além de tentar renovar suas direções regionais, o PSDB lançará no dia 5 de maio uma campanha nacional de filiação que será focada em dois segmentos: os jovens de 16 a 24 anos e as mulheres. Pesquisas da sigla mostraram que a simpatia aos tucanos vem crescendo de forma consistente nesse público. "Vamos ter um foco nas universidades", explicou Aécio.

Segundo o senador e presidente nacional do PSDB, o partido está investindo em quadros do movimento estudantil, que estão entrando em disputas por centros acadêmicos e Diretórios Centrais Estudantis (DCEs), entidades tradicionalmente comandadas por partidos como PT, PC do B e PSOL.

A comunicação do PSDB também está sendo incrementada, especialmente nas redes sociais. As bancadas de deputados estaduais e federais e os diretórios regionais unificaram a linguagem visual e o discurso. A estratégia foi usada na campanha presidencial de Aécio, no ano passado, e foi mantida, ganhando mais densidade depois das manifestações de rua contra Dilma em todo o País, no mês passado.

 

Grupo vai à Justiça para ficar longe de defensores da ditadura durante ato

 

O Movimento Brasil Livre, um dos principais organizadores dos protestos pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, tenta garantir na Justiça que seu carro de som fique a uma distância mínima de 400 metros dos levados por grupos que pedem a intervenção militar. A expectativa é de que a decisão da Justiça saia amanhã, dois dias antes do protesto marcado na Avenida Paulista, em São Paulo, e em centenas de cidades brasileiras.

A iniciativa, no entanto, esbarra, principalmente, na resistência do SOS Forças Armadas, que evoca o direito constitucional de livre manifestação. "O art. 5º da Constituição garante o direito à manifestação em qualquer hora e lugar, desde que seja sem anônimos, armas ou violência. Não é nosso caso", disse o representante do grupo, Renato Tamaio. "Se eles insistirem com isso, vamos processar o MBL", completou.

O coordenador jurídico do MBL, Rubens Nunes Filho, rebate usando também artigos da Constituição. Segundo ele, o inciso 16 do artigo 5.º da Carta determina que uma manifestação não pode atrapalhar outra previamente agendada. "O MBL foi o primeiro grupo a protocolar o protesto, às 10 horas do dia 16 de março. Temos a preferência", disse.

No protesto de março, quando milhares de pessoas ocuparam a Paulista, os carros de som dos dois grupos ficaram estacionados praticamente no mesmo espaço, em frente ao vão do Masp, que tradicionalmente é ocupado em manifestações. De acordo com um dos líderes do MBL, Renan Santos, isso prejudicou o grupo, que prega ideais liberais e discorda da ideia de intervenção militar.

Em reunião realizada ontem à tarde em São Paulo, intermediada pela Polícia Militar, os oito grupos que pretendem participar do manifesto de domingo decidiram de que forma os carros de som ficarão dispostos na Avenida Paulista. Pelo que ficou acordado, o trio elétrico do MBL ficará em frente ao Masp, enquanto os quatro carros de som que o SOS Forças Armadas pretende levar ficarão entre as Alamedas Campinas e Joaquim Eugênio de Lima - uma distância de mais de 500 metros.

Entre os dois grupos, na altura da Alameda Pamplona, ficará o Vem Pra Rua, grupo mais moderado que prega o Fora Dilma, mas não o impeachment neste momento. O coletivo é contra a intervenção. Seu porta-voz, Rogério Chequer, demonstra incômodo com a proximidade com o SOS Forças Armadas. "A Paulista é grande demais para abrigar todos os grupos e todas as ideologias. Não há necessidade de os grupos ficarem juntos, fazendo guerra de microfones", disse, lembrando que a disposição dos carros ainda não é definitiva.

A Polícia Militar, por meio de sua assessoria, informou que estará "trabalhando para identificar grupos antagonistas e garantir a segurança entre eles". A PM estima que entre 10 e 16 carros de som serão levados para a Paulista neste domingo. O número definitivo, entretanto, só será conhecido no dia do protesto. Pela manhã, todos os veículos serão vistoriados pela própria PM e pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e, uma vez liberados, seguirão em comboio para os locais preestabelecidos. Assim como aconteceu em 15 de março, eles não estão autorizados a circular.

Neste domingo, o vão do Masp ficará isolado. O espaço será utilizado para abrigar estruturas da PM, como um posto de comando, e ambulâncias.

A PM informa que a Avenida Paulista será fechada ao meio-dia, duas horas antes do horário marcado para o início do protesto. O encerramento está marcado para as 19h.