Mesmo com o perfil técnico, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vem assumindo cada vez mais o comando da articulação política do governo para tentar salvar o pacote de ajuste fiscal. O papel tem deixado Levy com os nervos à flor da pele. Segundo relato de participantes do jantar realizado no Palácio do Jaburu, na última segunda-feira, para discutir o adiamento da aplicação do novo indexador no cálculo das dívidas de estados e municípios, Levy se envolveu numa áspera discussão com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, por causa da decisão do prefeito de entrar na Justiça para garantir a aplicação do novo índice.

Na conversa, Paes lembrou que Dilma havia sancionado o projeto para renegociação das dívidas no dia 25 de novembro do ano passado, após um acordo com os governadores, prefeitos e aliados políticos. Mas Levy minimizou o fato, argumentando que não participara do acordo para aprovação e sanção da nova lei.

- Não tenho nada com isso. Eu só assumi no dia 27 de novembro - respondeu Levy, deixando os peemedebistas muito irritados.

- Mas você não pode achar que o mundo se restringe ao que aconteceu depois de sua entrada no governo - respondeu Paes.

Na discussão acalorada, os presentes relatam que Levy chegou a levantar a voz para Paes, alegando que a ação judicial pelo novo indexador vai prejudicar o ajuste fiscal. O peemedebista então, reagiu, de dedo em riste:

- O senhor baixe a bola, não fale nesse tom comigo porque não tem voto para isso!

Desde que o núcleo da articulação política do Planalto, composto pelos ministros Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), começou a perder força no Congresso, Levy, mesmo não tendo perfil político, assumiu junto com o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) o comando das negociações com bancadas dos partidos, com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-AL), e com outros segmentos, como as centrais sindicais.

Além do pacote de ajuste fiscal, Levy é chamado diariamente para tentar apagar incêndios com a votação de projetos no Congresso.

O líder do PMDB, na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), criticou a atuação do ministro da Fazenda:

- O governo é que transforma as coisas em derrota. Esse projeto das dívidas, por exemplo. Nós aprovamos a lei, pactuamos com o governo a aprovação do projeto. Dilma sancionou. Quem não quis cumprir a lei foi o ministro Joaquim Levy. Lei não é para discordar ou concordar, é para cumprir.

O papel de Levy se repetiu ontem, ao negociar o adiamento, em uma semana, da votação no Senado do projeto de lei que obriga o governo a aplicar novo indexador na renegociação das dívidas de estados e municípios. No começo da semana. Levy também conseguiu acordo para manter a política de valorização do salário mínimo sem ser obrigado a dar ganho real para as aposentadorias acima do mínimo.