Há várias lições a se tirar da manutenção da nota de crédito pela Standard y Poor's. A mais importante é que a falta de responsabilidade fiscal do governo no mandato passado levou o país a uma situação de fragilidade e reduziu a confiança dos investidores. Outra é que a guinada de 180 graus na política econômica evitou o pior, mas é preciso consolidar o superávit primário prometido.

O que neste momento mais ocupa as manchetes dos jornais é visto com bons olhos pelos investidores. A apuração do escândalo de corrupção na Petrobras prova a força das instituições democráticas brasileiras e contribuiu, segundo disseram no comunicado, para a manutenção da nota de crédito. E isso apesar dos efeitos econômicos sobre a cadeia de óleo e gás.

A decisão da SyP foi um alívio, mas cria uma pressão extra sobre o governo. Neste momento, a presidente Dilma tem dado sinais de que vai ceder em alguns pontos do ajuste fiscal. No Congresso, informa-se que ela terá que ceder um pouco em cada uma das medidas. Isso emagrecerá uma parte do ajuste, deixando um peso grande demais sobre o corte de despesas. Além disso, o clima atual no Congresso é de criação de mais gastos. Se isso se confirmar, o quadro que levou à manutenção do grau de investimento pode mudar.

Que ninguém se engane: o ano de 2015 será difícil, pelas palavras da própria Standard y Poor's. A agência estima retração do PIB de 1% este ano, com déficit nominal ainda alto, próximo de 5% do PIB. Os desafios da conjuntura estão descritos no primeiro parágrafo do texto que manteve a nota do país: "A presidente Dilma Rousseff enfrenta fortes desafios políticos e econômicos em meio à queda de aprovação, retração do nível de atividade e a investigação de corrupção na Petrobras", disse a agência.

Por outro lado, a SyP deu um voto de confiança aos esforços da nova equipe econômica. "A perspectiva estável para a nota reflete nossa expectativa de que os desafios políticos do ajuste fiscal continuarão tendo apoio da presidente Dilma, e também do Congresso, restaurando gradualmente a credibilidade perdida e pavimentando o caminho para um crescimento mais forte nos próximos anos."

A maior ameaça à nota de crédito soberana do Brasil vem do partido da presidente e da base governista. Não só a militância petista, mas também deputados e senadores do partido são contra as medidas que estão sendo anunciadas pelo ministro Levy. O aperto fiscal contraria tudo o que o PT disse para ganhar as eleições, mas o ajuste só está sendo necessário porque o governo chegou ao limite da irresponsabilidade do gasto público.

A mesma Standard y Poor's, que manteve a nota do Brasil, rebaixou o país no ano passado. Essa redução em 2014 colocou o governo brasileiro no último degrau entre os que são considerados seguros para investimento. Ou seja, se houvesse nova redução agora, o Brasil voltaria ao nível de investimento especulativo. Isso diminuiria o fluxo de investimentos para cá, elevaria mais o dólar, encareceria o crédito e tornaria mais difícil financiar o déficit em transações correntes.

Na teleconferência com investidores, muitos estrangeiros, foram várias as perguntas sobre a razão de ter se mantido o rating da Petrobras, que já foi rebaixado pela Moody's. Muitos se perguntam como uma empresa que não tem balanço auditado pode ser considerada um investimento seguro. Caso a Petrobras não entregue o seu resultado com auditoria externa até o fim do mês que vem, o vencimento de dívidas será antecipado. A SyP avalia que, mesmo sem uma garantia formal, o governo brasileiro é o garantidor de última instância da Petrobras e que ele fará o que for preciso para evitar o pior cenário.

- Não há uma garantia formal, mas acreditamos que o suporte existe - disse a analista da Standard y Poor's, Renata Lofti.

A SyP teve surpresas negativas e positivas com o país nos últimos meses. Tudo somado, a agência achou melhor manter a nota e esperar para ver o trabalho da nova equipe econômica. Enquanto o déficit primário de 2014 foi maior que o esperado e as projeções de crescimento foram revisadas para baixo, a guinada na economia comandada por Joaquim Levy surpreendeu positivamente.

Goste-se ou não das agências, elas são o sinal de trânsito para o capital internacional.