A Petrobras pode perder o grau de investimento - que funciona como um selo de boa pagadora - se não conseguir publicar seu balanço auditado até o fim de abril, informou ontem Sebastian Briozzo, diretor sênior da agência de classificação de risco Standard y Poor's (SyP). Ele explicou que, sem a divulgação dos resultados, donos de títulos emitidos pela petroleira no exterior (os chamados Bonds ) podem solicitar antecipação de dívida.

- Se a empresa receber alguma notificação de calote, isso pode custar a perda de seu grau de investimento. Após receber essa notificação, a companhia tem um prazo (por parte dos credores). A Petrobras consegue remediar essa situação com a divulgação de seu balanço financeiro (dentro do período de até 90 dias a partir do fim de abril) - explicou Sebastian. - Diria que, se a companhia não divulgar o balanço financeiro até o fim de abril, isso pode forçar um pedido de calote (dos donos de títulos da dívida da companhia) e afetar seu perfil de crédito.

Atualmente, a Petrobras tem nota "BBB-", nível mais baixo do grau de investimento pela SyP. Anteontem, a agência cortou a perspectiva dos Ratings de crédito da estatal de estável para negativa. Isso indica, na prática, que há risco de queda no curto prazo. Se a agência cortar sua nota para "BB ", a empresa passa a ser considerada "grau especulativo".

Em fevereiro, a Moody's - que junto com SyP e Fitch compõe o grupo das principais agências de classificação de risco - rebaixou a nota da Petrobras e retirou a classificação de grau de investimento. Diversos fundos de investimento seguem regras que determinam aplicação apenas em empresas que contam com este selo de boa pagadora em ao menos duas agências. Um eventual rebaixamento pela SyP levaria estes fundos a vender títulos da empresa.

Renata Lotfi, da equipe de Rating da SyP, ressaltou que a revisão da nota da Petrobras não está atrelada apenas à publicação do balanço, mas também a problemas de médio prazo.

- Vemos a Petrobras como uma empresa com fluxo negativo de caixa nos próximos anos, restrição para acessar o mercado internacional de dívida e redução dos investimentos. Ainda há a valorização do dólar em relação ao real. Sabemos que a companhia está trabalhando para a publicação de seu balanço e, por isso, não incorporamos a possibilidade de aceleração da dívida em seu cenário-base - disse Renata, destacando que a companhia vai refinanciar sua dívida com novos empréstimos de bancos públicos e privados, além da venda de ativos.

DÍVIDA DE 6% DO PIB

Lisa Schineller, diretora de Ratings soberanos da SyP, ressaltou ainda o suporte que o governo tem dado para a Petrobras:

- A companhia aumentou os preços no ano passado, e houve aumento de impostos neste ano. É uma mudança de política. Acreditamos que os mecanismos do governo estarão disponíveis.

Lisa esclareceu que a perspectiva estável do Brasil já leva em conta a situação da estatal:

- Estamos em constantes conversas com a Petrobras e com o governo. A correção fiscal vai compensar a perspectiva negativa na Petrobras e das empresas. Por isso, mantivemos a perspectiva estável, mesmo com a dívida da Petrobras representando 6% do PIB. A empresa tem papel-chave na retração da economia, mas não podemos esquecer dos ajustes que estão sendo feitos com a política monetária. Ainda há a questão da energia. A Petrobras só complica o quadro.