Foi com alívio que os mercados receberam a notícia que a renomada agência internacional de avaliação de crédito S&P manteve inalterado o grau de investimento para a economia brasileira em sua sua escala de risco. O real chegou a se valorizar, e outros ativos financeiros também se recuperaram, depois de semanas de deterioração. O ajuste fiscal proposto pela nova equipe econômica do governo se mostrou convincente. Mais que isso: os primeiros resultados reforçaram os argumentos que as metas pretendidas são factíveis.

O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem razão ao afirmar que, se o país for firme na execução do ajuste fiscal, a recuperação da economia será mais rápida, o que ficou evidente na reação imediata positiva dos mercados financeiros à notícia de manutenção do grau de investimento pela S&P.

Uma mudança nas expectativas é o passo inicial para que investimentos sejam retomados e o ambiente de desolação deixe de contaminar o mundo dos negócios. Por essa razão, não é hora de fraquejar. Preocupa, assim, a possibilidade de a presidente Dilma recuar, mesmo que em alguns pontos, no processo de ajuste. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, em sua edição de ontem, Dilma prometera ao PT e ao ex-presidente Lula que estava disposta a renegociar as medidas provisórias 664 e 665, importantes instrumentos no corte permanente de despesas, incluindo mudanças em certas regras de previdência social (pensão por morte) e do seguro desemprego.

Se verdadeira essa disposição, o governo abrirá frechas que enfraquecerão o ajuste. Além do mais, as MPs corrigem sérias distorções. Para atingir os objetivos fiscais, as despesas não obrigatórias do governo federal terão de retroceder para o patamar de 2013. Não é uma correção indolor. Provocará atritos dentro da própria administração pública, que se acostumou a uma situação bizarra e incompatível com as limitações orçamentárias que o país terá de conviver ainda por um bom tempo. A pressão por aumento de gastos também parte do Legislativo e da equação política fisiológica que o governo montou para se sustentar. Nenhum dos 39 ministérios e secretarias especiais foi extinto neste segundo mandato de Dilma Rousseff. Do mesmo modo, não houve enxugamento no enorme contingente de 22 mil cargos de confiança na esfera federal, cujo critério de ocupação é basicamente por indicações políticas.

A afirmar que é preciso pensar mais no Brasil e menos em Brasília, a presidente Dilma acerta e reconhece que a máquina burocrática sustentada por barganhas com os políticos que formam a base de sustentação do governo não é um fim em si mesma. Deveria aproveitar e seguir o próprio conselho. A recuperação da economia brasileira exige sacrifício, e não faz sentido que o ajuste poupe essa máquina.