O arrocho prometido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, poderá ser doloroso, mas por enquanto os brasileiros ainda enfrentam a devastação causada pelos erros dos últimos quatro anos - inflação disparada, indústria atolada, contas públicas em ruínas, comércio exterior esburacado, grandes estatais no vermelho, e a maior delas, a Petrobrás, desmoralizada internacionalmente. Números oficiais continuam mostrando, dia a dia, novas dimensões dos estragos produzidos no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Em fevereiro, a produção industrial foi 0,9% menor que em janeiro e 9,1% inferior à de um ano antes. A perda acumulada chegou a 4,5% em 12 meses, com recuo em todos os grandes segmentos - bens de capital, bens intermediários e bens de consumo de todas as categorias.

Com o desemprego em alta, a inflação encostando em 8% e o crédito cada vez mais caro, os consumidores passaram a fugir das dívidas. Em fevereiro, a produção de bens de consumo duráveis foi 25,8% menor que a de um ano antes. Em 12 meses, a redução foi de 13,4%.

Nada mais natural, nesse quadro, que a retração do segmento de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. A última queda mensal foi de 4,1%, para um nível 25,7% abaixo do registrado em fevereiro de 2014, e o tombo em 12 meses foi de 13,5%. Menor investimento em bens de produção significa menor potencial de crescimento e de reação a novos estímulos do mercado. Além de produzir menos, a indústria brasileira tem ficado mais débil e menos capaz de disputar boas posições no mercado.

Operando com investimento insuficiente, custos altos e baixa produtividade, as fábricas brasileiras, com poucas exceções, há anos perdem espaço no comércio internacional. No primeiro trimestre deste ano, as exportações de manufaturados, no valor de US$ 16,37 bilhões, foram 10% inferiores às de janeiro-março de 2014. Parte da queda é explicável pela crise argentina, mas em toda a vizinhança os exportadores chineses têm tomado espaço da indústria brasileira, pouco preparada para enfrentar os competidores mais dinâmicos.

As dificuldades no comércio exterior - com perda também de importantes fatias do mercado nacional - vêm-se agravando há alguns anos. Nem a depreciação cambial, considerável desde o ano passado, tem contribuído de forma relevante para tornar mais competitivos os produtores nacionais.

O baixo poder de competição da maior parte da indústria comprova os erros de concepção e o consequente fracasso da política industrial em vigor desde o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não se faz uma indústria eficiente e capaz de conquistar mercados com a mera combinação de protecionismo, regras de conteúdo nacional, estímulos mais ao consumo que ao investimento e favores fiscais e financeiros a grupos coroados previamente como campeões.

Essa coleção de equívocos produziu enorme desperdício de recursos, sangrou o Tesouro e impôs custos absurdos à Petrobrás, convertida imprudentemente em instrumento de política industrial. As perdas foram, porém, menores do que teriam sido se a diretoria da estatal houvesse cumprido de forma estrita aquele papel.

Os últimos dados da indústria reforçam as previsões pessimistas para 2015. As últimas projeções do mercado financeiro indicam para este ano uma produção industrial 2,42% menor que a do ano anterior. O crescimento estimado para 2016 é pífio, de 1,68%, e insuficiente para levar a produção ao nível de dois anos antes.

Nada sobra de positivo na herança dos últimos quatro anos. Nem o setor de serviços, especialmente favorecido pelas políticas de estímulo ao consumo e de expansão do mercado interno, tem perspectivas de bom desempenho. De fevereiro para março o índice de confiança dos empresários do setor caiu 12,1% e chegou ao menor nível da série iniciada em 2008, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Cada novo dado confirma: o trabalho da nova equipe econômica deve ser muito mais amplo que o conserto das contas públicas e o combate à inflação.