O executivo da Toyo Setal Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em novo depoimento prestado no dia 8 de abril que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu interveio pela contratação da empresa junto ao ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli. O depoimento faz parte do material encaminhado pela Polícia Federal ontem ao Supremo Tribunal Federal relativo aos inquéritos que apuram envolvimento de políticos no esquema de corrupção e propina na estatal.

Camargo disse à PF que conheceu o petista em uma festa de aniversário do ex-ministro, quando ele já tinha deixado a Casa Civil do governo Lula. O convite foi feito por um amigo em comum. Os dois tiveram mais de 20 encontros, segundo os relatos de Camargo, a maioria no escritório ou na residência de Dirceu. 
No novo depoimento, Camargo afirma que tinha meios de dar suporte financeiro à Petrobrás, mas em contrapartida a estatal deveria celebrar contrato com um consórcio do qual a Toyo fazia parte. Diante da sinalização de mudança da Petrobrás desse modelo de negócio, o executivo teria buscado ajuda de Dirceu. O ex-ministro disse, segundo o relato de Camargo, “ter feito gestão junto a Gabrielli no sentido de entender por qual razão a Petrobrás havia mudado a sistemática”.
 
Ele declara que doou valores ao PT, mas destaca que nunca ofereceu vantagens “devidas ou indevidas” a Dirceu. Apesar disso, Camargo diz ter autorizado viagens de Dirceu em seu avião em “várias oportunidades”, mas não se lembra de o petista ter feito menção a ninguém da Petrobrás nas viagens.
Venezuela. Dirceu e o executivo da Toyo também conversaram sobre a Venezuela, segundo o delator. A Toyo enfrentava problemas na execução de contratos no país e Dirceu teria sinalizado que “conseguiria uma entrada” de Camargo com o presidente da PDVSA, estatal venezuelana responsável pela exploração de petróleo. O executivo não teve autorização da Toyo para continuar com a negociação.
 
O executivo da Toyo relata ainda ter se encontrado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também investigado no âmbito da Lava Jato, em duas ocasiões. Os dois trataram de questões do setor portuário. Na época, estava em tramitação no Congresso a medida provisória conhecida como MP dos portos, que regulamentou o setor. Cunha teria perguntado a Camargo se haveria disponibilidade de a Toyo, por meio de um banco japonês, conseguir financiamento para projetos em portos. O peemedebista teria prometido “fazer gestões” para a contratação da Toyo caso o financiamento fosse obtido. As conversas cessaram depois que Camargo afirmou que não conseguiria obter o financiamento.
 
Cunha disse ao Estado ter sido procurado por diversas pessoas na época e uma delas poderia ter sido Camargo. Ele afirmou que o executivo queria investir e a nova legislação previa investimentos privados em áreas externas dos portos.
 
Justiça prorroga prisão temporária de cunhada de Vaccari
 

O juiz Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava Jato, decretou nova prisão temporária de Marice Corrêa de Lima, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, nesta terça-feira, 21, por cinco dias. O Ministério Público Federal havia pedido a prisão preventiva de Marice.

A prisão temporária decretada na semana passada venceria hoje. Os procuradores alegaram que Marice mentiu durante seu depoimento prestado nesta segunda-feira, 20, diante das autoridades. Ela foi detida temporariamente (por 5 dias) após se entregar, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, base das investigações da Lava Jato, na sexta-feira, 17.

“Resolvo, ao invés de acolher o especificamente requerido pelo MPF e decretar a prisão preventiva, sem prazo determinado para acabar, prorrogar a prisão temporária por mais cinco dias de Marice Correa de Lima”, decidiu Moro. ”A medida oportunizará nova oitiva de Marice Corrêa de Lima na qual ela poderá esclarecer ou não sua participação nos depósitos em espécie realizados na conta da esposa de João Vaccari Neto e as circunstâncias que envolveram esses fatos, inclusive a identificação e a localização da fonte de recursos utilizados para os depósitos, propiciando eventual sequestro judicial que eliminaria, em substituição à preventiva, a possibilidade de reiteração delitiva.”

Marice foi identificada como a pessoa que pode ter feito depósitos “picados” para a irmão e mulher de Vaccari, considerados formas de ocultar o rastreamento de dinheiro ilegal. Ouvida ontem em Curitiba, pelos investigadores da Lava Jato, Marice negou ter feito depósitos na conta da irmã, mulher de Vaccari, em 2015. Imagens inéditas anexadas ao processo, das câmeras de bancos, mostram que a cunhada pode ter sido a origem desses depósitos e que eles teriam continuado até março.

“Não se trata aqui de compelir à confissão, mas de conceder à investigada a oportunidade de defender-se em vista da prova nova trazida pelo Ministério Público Federal, eventualmente inclusive demonstrando o desacerto das afirmações do Ministério Público Federal e das conclusões provisórias deste Juízo, e quiça demonstrando que não existe risco de reiteração delitiva pela identificação da fonte de recursos e eventual demonstração de seu exaurimento. Querendo, poderá, evidentemente, exercer o direito de ficar em silêncio”, disse Moro.

A força-tarefa da Lava Jato havia identificado depósitos “picados”, no limite próximo de R$ 10 mil, que somaram R$ 322,9 mil em conta da mulher do tesoureiro do PT sem identificação do depositante. Em um único dia, 12 de dezembro de 2013, Giselda Rousie de Lima recebeu em conta cinco depósitos, quatro deles no valor de R$ 2 mil e um de R$ 1.500.

Iniciou-se então uma investigação para identificação quem poderia ter feitos os depósitos. O Banco Itaú, após ser acionado pelo MPF, foi um dos que enviou imagens de suas câmeras internas.

“Ocorre que colheu o Ministério Público Federal prova junto ao Banco Itaú de que ela é a responsável por esses depósitos em espécie na conta de Giselda. Relativamente a depósitos em espécie e em iguais condições havidos em 02 e 06 de março de 2015 na conta da esposa de João Vaccari Neto, a instituição financeira, examinando as gravações das câmaras de filmagem, identificou Marice Correa de Lima como a pessoa responsável pelos depósitos no exato local, hora e minuto de sua realização”, relata Moro.

“Embora Marice não tenha sido identificada nominalmente, os vídeos apresentados não deixam qualquer margem para a dúvida de que a pessoa em questão é Marice Correa de Lima, como pode ser visualizado nos documentos.”