Título: Bolsas registram onda de prejuízos
Autor: Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 02/08/2011, Economia, p. 11

Medo de retração econômica nos EUA e na Europa derruba os principais mercados do mundo

Os investidores de todo o mundo não descolaram os olhos dos Estados Unidos, ontem, na expectativa de o Congresso aprovar o aumento do teto da dívida do país ¿ o que se confirmou depois de uma longa negociação entre o governo e parlamentares da oposição. Mas, apesar da certeza de vitória do presidente Barack Obama, muita gente não pagou para ver, sobretudo diante da perspectiva de forte desaceleração da economia norte-americana e da Europa. As principais bolsas de valores do mundo fecharam a segunda-feira em queda, empurradas ladeira abaixo pelo fraco desempenho da produção industrial nos dois lados do Atlântico.

Em São Paulo, o Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista, abriu o mês de agosto com perda de 0,49%, nos 58.535 pontos. Os prejuízos só não foram maiores graças à recuperação de papéis como os da Petrobras, que subiram 0,38%, e os da Vale, com elevação de 0,04%. "Foi um dia de grande oscilação nos preços das ações, reflexo do nervosismo dos investidores quanto aos rumos das maiores economias do mundo", disse um operador de um banco estrangeiro. O mesmo, segundo ele, ocorreu em Nova York, onde o índice Dow Jones chegou a ficar positivo, mas não resistiu às incertezas e caiu 0,09%, para os 12,132 pontos. Na Nasdaq, a bolsa eletrônica, o tombo foi de 0,43%.

Na Europa, além do medo de uma recessão nos Estados Unidos, mesmo com a aprovação do aumento do teto da dívida pública, contribuíram para a onda de desvalorização nas bolsas as dificuldades de algumas das principais economias da região em sair do atoleiro. As apostas, inclusive, são de piora na Espanha e na Itália, países que vêm sendo apontados como os próximos a serem socorridos pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Coincidentemente, foram os pregões de Madri e de Milão os que mais caíram ontem: 3,87% e 3,24%, respectivamente.

Para Bob Doll, vice-presidente da BlackRock, que administra fundos de US$ 3 trilhões, o mundo viverá dias de grande instabilidade, até que fique bem claro para onde vai a economia dos Estados Unidos. Ele ressaltou que há riscos de a principal locomotiva do planeta descarrilar de vez, apesar de esse não ser o seu cenário principal. "O risco de recessão nos EUA existe, mas é baixo. Acreditamos que a economia norte-americana ganhará fôlego nos próximos meses", destacou.

No mercado de câmbio, também a volatilidade foi grande, mas o dólar acabou encerrando as negociações com alta de 0,63%, a R$ 1,560 para venda. O Banco Central deu a sua contribuição para a alta da moeda norte-americana, ao fazer dois leilões de compra, por meio dos quais retirou o excesso de recursos estrangeiros do sistema financeiro. O governo acredita que, com as medidas anunciadas na semana passada, taxando as operações no mercado futuro, está conseguindo evitar o derretimento do dólar.