O ex-ministro Antonio Palocci enviou nesta segunda-feira carta por e-mail a amigos e correligionários na qual rebate a informação de que sua empresa de consultoria, a Projeto, teria recebido pagamentos R$ 12 milhões de 30 empresas, incluindo os grupos Pão de Açúcar, JBS e Caoa, no período em que assumiu a coordenação da campanha de Dilma Rousseff em 2010. Segundo ele, as operações são "legítimas relações comerciais".

Os acordos e pagamentos da consultoria de Palocci foram revelados pela revista Época neste fim de semana. O ex-ministro ataca a publicação, ao dizer que "novamente" um veículo de imprensa investe "de maneira sensacionalista e espetaculosa" contra sua honra.

No e-mail, Palocci tenta explicar pontualmente cada um dos contratos. O primeiro ponto diz respeito ao Pão de Açúcar. Segundo o ex-ministro, o contrato de acompanhamento técnico da aquisição das Casas Bahia foi investigado pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal e arquivado pela Justiça Federal. O Grupo Pão de Açúcar informou ontem que vai investigar internamente o caso.

Em relação à JBS. Palocci diz que a Projeto realizou "estudo de avaliação da oportunidade" para a compra da Pilgrim, maior empresa de carne processada dos EUA, "muito tempo antes" de o BNDES fazer empréstimo bilionário ao grupo brasileiro para o negócio ser realizado. Conforme o ex-ministro, cinco das seis parcelas recebidas pela Projeto pelo serviço foram pagas antes da liberação do crédito, e o relatório elaborado por sua consultoria está anexado em processo que corre na Justiça Federal do DF.

Quanto à Caoa, Palocci afirma ter sido contratado para "avaliar, esboçar plano de execução de associação com montadora de automóveis, estudar tendências do mercado mundial do setor, oportunidades e estratégias de novos negócios" dez anos antes de o grupo conseguir no Congresso a prorrogação do direito ao regime tributário diferenciado.

Na carta, Palocci pede desculpas por não dar mais detalhes sobre os contratos alegando a existência de cláusulas de confidencialidade. Foi a mesma argumentação usada em 2011, quando a revelação da movimentação financeira da Projeto levou o então titular da Casa Civil a sair de um governo petista pela segunda vez - a primeira foi em 2006, ao deixar a Fazenda.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, as novas revelações da revista Época irritaram Dilma justamente no momento em que Palocci volta a participar de atividades políticas em reuniões promovidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2012, Palocci usou o mesmo expediente de enviar uma "carta a amigos" - que acabou distribuída também a deputados e senadores - explicando as denúncias de que teria aumentado em 20 vezes seu patrimônio entre 2006 e 2010.

Na ocasião, ele alegou que ex-ministros "valem muito no mercado", pois chefiar a Fazenda ou o Banco Central proporciona "uma experiência única que dá enorme valor a esses profissionais no mercado".