A força-tarefa que atua na Operação Zelotes deverá analisar 230 mil e-mails e 2,3 mil horas de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. O trabalho visa desvendar o suposto esquema de corrupção no Conselho de Recursos Administrativos Fiscais (Carf), órgão que atua como uma espécie de "Tribunal da Receita".

Os números foram mencionados pelo procurador da República que coordena as investigações, Frederico Paiva, ao Conselho Superior do Ministério Público. Ao apresentar os dados, Paiva submeteu ao Conselho um pedido de afastamento por 60 dias de um cargo que ocupa no 6.º Ofício de Combate à Corrupção, sob a justificativa do volume de trabalho acumulado com a operação. A solicitação do procurador foi aprovada pelos membros do Conselho, presidido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na manhã de segunda-feira. De acordo com Paiva, a análise do material é referente a 43 investigados.

No início do mês, o Conselho Superior do Ministério Público aprovou a criação de uma força-tarefa para cuidar exclusivamente da Operação Zelotes. Paiva é o coordenador do grupo, que conta com mais três procuradores da República. Além do coordenador, compõem a força-tarefa os procuradores José Alfredo de Paula Silva e Raquel Branquinho, os dois da Procuradoria Regional da República da 1.ª Região, e Rodrigo Leite Prado, da Procuradoria da República em Minas Gerais.

A Operação Zelotes, deflagrada em 26 de março, investiga 74 processos relacionados a autuações fiscais da Receita Federal. As ações do Carf foram suspensas logo após a Operação ter sido deflagrada pela PF e a previsão é de que atividades do Conselho sejam retomadas em breve.

Para isso, o governo vai abrir consulta pública com propostas de mudanças na estrutura e no funcionamento do órgão, o que deve ter início na próxima quinta-feira, de acordo com o Ministério da Fazenda.

 

Maior preocupação dos auditores é o ambiente de negócios

 

Em tempos de baixo crescimento e escândalos de corrupção, profissionais de auditoria enfrentam grandes desafios para a sua plena atuação.

Em levantamento feito em 35 países pela KPMG, 52% dos 1.500 membros de conselhos de administração e comitês de auditoria consultados apontaram incertezas no ambiente de negócios como principal preocupação. No caso do Brasil, esse número sobe para 60%.

Para Sidney Ito, sócio da área de riscos da KPMG, os comitês de auditoria no País ainda precisam evoluir em um ponto específico: "As medidas tomadas pelos comitês, em geral, são reativas, não preveem cenários".

Outra pesquisa, realizada pela Deloitte no Brasil, aponta que as principais frentes de atuação das auditorias internas têm sido o monitoramento de riscos financeiros (44% dos respondentes) e a adequação às regras de cada setor (43%). O levantamento foi realizado com 175 profissionais de empresas brasileiras, principalmente diretores e gerentes, entre novembro de 2014 e janeiro deste ano.

Nesse contexto, o trabalho dos auditores é afetado em duas frentes: de um lado, a cobrança por procedimentos mais rigorosos; de outro, questionamentos sobre a responsabilidade da própria auditoria por prejuízos e fraudes cometidos nas organizações.

Um dos pontos-chave para evitar a corrupção nas empresas é a forma como as informações estratégicas circulam dentro (auditoria interna e independente) e fora das companhias (auditoria externa). Em ambos os casos, os profissionais se baseiam em dados fornecidos por outras áreas da empresa.

"É preciso detalhar os riscos para a organização em si. Todas as entidades envolvidas com a empresa (como bancos e órgãos reguladores) podem contribuir pedindo informações sobre esses riscos", diz o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Idésio Coelho.

O sócio da TG&C Auditores, Marcos Sanches, também destaca que a interação entre a auditoria e outras áreas da empresa pode melhorar a produtividade: "Profissionais produzem de maneira diferente ao saberem que são monitorados."

Na berlinda. Com o escândalo de corrupção na Petrobrás, a PriceWaterhouseCoopers (PwC) e a KPMG são questionadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quanto a seu posicionamento sobre as demonstrações financeiras da estatal, aprovadas sem ressalvas até o terceiro trimestre de 2014.

Sobre a auditoria externa, Idésio Coelho explica que há três formas de avaliar os trabalhos: uma possibilidade é a de a fraude não poder ser capturada pelos técnicos, uma vez que os resultados financeiros não são elaborados por ela; a segunda possibilidade é a de falha no trabalho do auditor, o que implica em multas ou sanções dos reguladores; a terceira hipótese é a de participação do auditor na fraude, um caso de polícia.

Quanto à auditoria interna, "é importante que os profissionais tenham independência em relação a seus gestores e à forma como se reportam", ressalta o especialista em gestão de riscos da Deloitte, Alex Borges. Os profissionais precisam ter em mente a estratégia de negócios da companhia e se alinhar a seus valores para que o trabalho surta os efeitos desejados.