A Petrobras carrega no DNA fortes traços de simbologia nacionalista. Afinal, surgiu, no início da década de 50, de um amplo movimento político de que tiveram participação muito ativa os militares, conhecidos por esta característica ideológica. Grupos de esquerda também aderiram, porque se tratava de combater o “imperialismo ianque".

Passam-se os anos e a estatal, devido à sua história, continua a se prestar a toda sorte de manipulações quando grupos e corporações que se beneficiam de alguma forma da companhia se sentem ameaçados. Basta se cobrir com a bandeira do Brasil, subir em carro de som, e denunciar “conspirações” tenebrosas contra a empresa. Sempre haverá quem acredite, principalmente se alguma máquina partidária e sindical estiver por trás da manobra.

É o que acontece agora no escândalo do petrolão, cujo principal protagonista é o PT, partido que, junto com o PP e PMDB, está no centro de um gigantesco esquema montado na empresa a fim de desviar dinheiro para os partidos e candidatos das legendas.

Os relatos dos desfalques — praticados com empreiteiras que superfaturavam contratos assinados com a estatal com o objetivo de ajudar os partidos — são avassaladores. Entre os ex-dirigentes implicados no golpe, dois firmaram acordos de delação premiada, pelos quais se beneficiam de atenuação de penas ao ajudar nas investigações.

Os relatos conhecidos até agora feitos por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, e Pedro Barusco, gerente-geral da diretoria de Serviços, e a prisão de Renato Duque, apadrinhado pelo PT, mas ainda em silêncio, confirmam o tamanho do escândalo. Enquanto os testemunhos transcorrem, milhões de dólares e euros têm sido bloqueados em contas no exterior. Apenas Barusco confessou ter desviado US$ 97 milhões —, pois as pessoas físicas de diretores também participaram da festa. É com base no próprio roubo que ele estima que o PT tenha recebido desse assalto algo entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, dos quais US$ 50 milhões captados pelo próprio João Vaccari Netto, tesoureiro da legenda.

 

Num conhecido truque de punguismo de rua, o lulopetismo, enquanto assaltava a empresa, gritou “pega ladrão!”. E se envolveu na bandeira brasileira.

Mas os verdadeiros inimigos da Petrobras são os partidos que articularam o petrolão, com o lulopetismo à frente, representado pelo militante José Sérgio Gabrielli, presidente da estatal em quase todo o período dos saques aos cofres da empresa.

O resultado, até agora, é que a empresa perdeu o crédito no sistema financeiro global e teve a nota de risco rebaixada. E não demonstra a mínima condição de exercer o monopólio na operação nas áreas do pré-sal e deter 30% de todo consórcio formado para explorá-las. Num paradoxo, o mesmo lulopetismo que restaurou parte do monopólio estatal da companhia quase a faliu por forçá-la a subsidiar o consumo interno de combustível. E ao depená-la.


 

Ataques antinacionais

 

Sibá Machado

 

A Petrobras é a empresa símbolo do Brasil. Desde sua criação, em 1953, é atacada pelos segmentos que menosprezam nossa soberania, autonomia tecnológica e os interesses nacionais, já que se alinham de forma automática e submissa aos estrangeiros. A estatal, agora, tem sido alvo de ataques da oposição e de setores da mídia que não conseguem esconder a vontade de entregar as riquezas do pré-sal a petroleiras estrangeiras. Usa-se como argumento para legitimar esse complexo de vira-latas a chamada Operação Lava-Jato, que expôs esquemas criminosos praticados por funcionários e dirigentes da estatal.

Entendemos que todos os que cometeram ilícitos devem ser punidos, inclusive os que assim agiram no período do governo do PSDB/FHC. Mas toda a celeuma provocada em torno do tema não pode servir de pretexto para enxovalhar a imagem da empresa, uma das maiores petrolíferas do mundo. Tem havido campanha sórdida para enfraquecê-la e tentar entregá-la aos estrangeiros. São os mesmos que na época do PSDB tentaram sua privatização plena e até mudar seu nome para Petrobrax.

O governo patrocinou a mudança de comando na empresa e tudo será uma questão de tempo para se estabelecer uma nova governança e resgatar sua capacidade econômica e financeira.

A Petrobras é a expressão do interesse nacional, como mostram os números. Atacá-la é tentar fragilizar o país. Cada R$ 1 investido pela Petrobras gera R$ 1,90 de renda na economia, um alto efeito multiplicador. Seus investimentos representam 2% do PIB e devem totalizar R$ 200 bilhões, entre 2014 e 2018.

A estatal detém tecnologia própria de exploração em águas ultraprofundas, o que gera cobiça de outras empresas e até governos. Tem o papel de induzir investimento em tecnologia, pois mantém na Coppe-UFRJ um centro de pesquisa e excelência na área de tecnologia e exploração de petróleo, e tem parcerias com outras universidades. Detém a terceira maior reserva de petróleo a ser explorada entre as dez maiores empresas privadas petroleiras do mundo. A Petrobras compra 10% das máquinas e equipamentos vendidos no Brasil. Ou seja, cria uma demanda imensa para empresas domésticas de bens de capital.

Para os que atacam a empresa, é bom frisar que ela é responsável por cerca de 80 mil empregos diretos. E sua paralisação, como querem os entreguistas de plantão, iria afetar também as empreiteiras, responsáveis por 2,8% do PIB em termos de investimento.

 

O Brasil, com o PT , a partir do governo Lula e, depois, com Dilma, nunca combateu tanto a corrupção. A Polícia Federal, durante o governo FHC , realizou apenas 48 operações. Com o PT, de 2003 a 2014, foram 2.226 operações, com a prisão de 24.881 pessoas, das quais 2.351 servidores públicos e 119 policiais federais. Vamos continuar a prender e punir corruptos, mas a Petrobras – junto com o pré-sal e o regime de partilha, deve ser preservada dos ataques antinacionais.

Sibá Machado é deputado federal (PT-AC)