Esgotado o ciclo de expansão da economia brasileira a partir de incentivos ao consumo, são os investimentos que agora terão o papel de puxar o crescimento. Eles estão em queda livre hoje, abatidos pela descoberta de um tentacular esquema de corrupção na Petrobras, que se irradia pelo setor público, pela retração acentuada da economia e por um ajuste fiscal necessário, porém desfavorável aos gastos do Estado. Para além do curto prazo, estimular os investimentos exigirá mudanças substanciais na gestão pública e no financiamento, desafios difíceis para os quais o país está hoje bastante despreparado.

O desequilíbrio econômico generalizado durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff acabou enfraquecendo a alavanca dos grandes investimentos em infraestrutura, por onde terá de passar a nova onda de expansão da capacidade produtiva da economia. O escândalo da Petrobras revelou o que já se sabia, em escala chocante. Além do esquema de corrupção, houve falta de sistema de controle e supervisão ágeis e competentes, e enorme desperdício de recursos escassos em projetos ora mal dimensionados ora sem viabilidade econômica.

A reestruturação da Petrobras cortará seus planos de investimentos, cujo poder multiplicador, não apenas na indústria de óleo e gás, é muito significativo. As principais construtoras foram atingidas e, com as delações premiadas, sabe-se que houve pagamento de propinas na ferrovia Norte-Sul, segundo depoimento do presidente da Camargo Correa, Dalton Avancini à Polícia Federal (O Globo) em contrato com a Valec.

Há evidências de que rouba-se muito nos investimentos públicos, sem a contrapartida mínima, que um cínico poderia almejar, de obras prontas e de qualidade. A corrupção é um ingrediente que permeia incompetência gerencial, falta de planejamento, burocracia, regulação mal feita e agências reguladoras desprestigiadas - algumas sem diretores para tomar decisões importantes, outras dominadas por interesses partidários hostis à competência e todas com orçamentos abaixo das necessidades.

Há um enorme potencial a ser explorado no setor de energia, transportes e saneamento. Mas faltam expertise, financiamento e, agora, ao que tudo indica, interessados. Com o ajuste fiscal, a vítima óbvia foram os investimentos. Os do PAC receberam recursos 31% inferiores no primeiro bimestre do ano em relação a 2014. Ainda não apareceram com força os efeitos das mudanças no financiamento do programa que, como nas concessões, implicavam subsídios diretos ou a troca de modicidade tarifária, só possível com menor retorno dos investimentos, por fartos empréstimos, a custos também subsidiados. A transição para outro modelo em um sistema financeiro até agora avesso ao longo prazo e dependente do BNDES deverá ser lenta, limitando seu crescimento.

Há esperanças exageradas em relação às concessões e parcerias público-privadas, quando o governo não tem dinheiro e se endivida a um custo muito alto. Ambas dependem da administração pública, com sua morosidade e burocracia. Parcerias implicam contrapartidas públicas, possivelmente inviáveis quando a União é obrigada a fazer grandes economias. As concessões têm mais chances de prosperar, embora esbarrem na falta de traquejo público para moldá-las. Por exemplo, cerca de 58% das obras de saneamento do PAC - total de R$ 10 bilhões - estavam paralisadas ou atrasadas, segundo levantamento do Tribunal de Contas da União de fim de 2013 (O Globo, 5 de abril). Principal motivo: deficiência de projetos de engenharia.

Há soluções, mas elas implicam uma reforma de alto a baixo na gestão pública. Os ministros da Fazenda e Planejamento tentam abrir brechas com remendos, que é o que no momento conseguem fazer. Retirar a Infraero das concessões de aeroportos, limitando sua participação a 1% é um passo na direção correta. Joaquim Levy quer alargar o espaço privado nos mecanismos de financiamento. E, o que é promissor, começa a falar em reforma administrativa. Nela caberia o retorno das agências a suas funções primordiais de regulação amparada no mérito e competência técnica. É possível fazer muito mais e melhor, desde que o governo se convença disso e aja em sintonia para atingir seus objetivos. Com uma recessão à frente e popularidade em baixa, não se deve dele esperar lances ousados nessa direção.