Diante de um cenário difícil, o pequeno grupo de economistas que mantinha as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 em terreno positivo começa a jogar a toalha e passa a prever recessão para este ano. No entanto, ainda há quem estime, sim, um PIB positivo para este ano. De um total de 28 instituições financeiras e consultorias acompanhadas pela FocusEconomics, cinco resistiam, ao prever uma trajetória mais benigna para o PIB deste ano, que ia de estabilidade a leve alta de 0,6% em previsões feitas no início de março. Uma delas, a britânica Oxford Economics, informou que revisou o número e agora espera queda de 1,3% para o PIB em 2015. Outra, o BBVA Research, mantém a expectativa de alta de 0,6%, mas avisa que as chances de um corte no percentual são altas, puxadas pelo aperto fiscal e pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Por ora, o grupo dos "otimistas" reúne quatro instituições - todas estrangeiras - que ainda apostam numa economia que, se não vai voltar a crescer a taxas mais robustas neste ano, ao menos não deve encolher. São elas: BBVA Research, que espera alta de 0,6% para o PIB de 2015; o Banco de Crédito del Perú e a Capital Economics, ambos com previsão de alta de 0,5%; além do Banco Tokyo-Mitsubishi, que projeta estabilidade para a economia neste ano, segundo o LatinFocus de março, relatório voltado para a América Latina da consultoria sediada em Barcelona, Focus Economics. Ao grupo, se junta a consultoria Macrométrica, do economista Francisco Lopes, que embora não faça parte da lista também destoa da maioria ao prever alta de cerca de 0,5% do PIB em 2015.

 

http://www.valor.com.br/sites/default/files/crop/imagecache/media_library_small_horizontal/0/10/658/430/sites/default/files/gn/15/04/arte07esp-101-pib-a12.jpg

Embora o cenário seja de muitas dúvidas, diz o economista da Capital Economics, Neil Shearing, há alguns fatores positivos a ajudar a economia brasileira no médio prazo. A forte desvalorização do real pode favorecer os exportadores do país o que, ao lado do que chama de "afrouxamento da austeridade" no próximo ano, explica a retomada do crescimento em 2016, para algo perto de 1,5%. "Mas sinceramente eu não diria que estamos otimistas", diz Shearing.

Para o economista, é preciso cuidado ao ler o que chama de "pequenas diferenças" existentes entre as previsões de crescimento para a atividade econômica. Além disso, afirma ele, é preciso ter em mente as recentes revisões do PIB feitas pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostram que o Brasil tem crescido a uma taxa ligeiramente mais rápida do que se acreditava anteriormente. "Em resumo, é possível dizer que nossa previsão é de estagnação econômica neste ano, seguida de um crescimento modesto de cerca de 1,5% no próximo", diz ele.

Já Enestor dos Santos, economista-chefe para o Brasil do BBVA Research, pondera que a previsão de alta 0,6% para o PIB brasileiro em 2015 pode ser afetada por um aperto maior do que o esperado nas políticas monetária e fiscal e também pela crise na Petrobras. Além disso, avalia Santos, uma queda mais forte dos preços das principais matérias-primas exportadas pelo país pode, em breve, determinar um ajuste da previsão para 2015. "No atual contexto, uma queda do PIB pode ser inevitável".

Olhando para os dois primeiros relatórios de 2015 da FocusEconomics vê-se que as expectativas para o desempenho do PIB brasileiro em 2015 não começaram o ano nas alturas, mas o grupo dos mais pessimistas era bem menor. Do grupo de 28 instituições acompanhadas, em janeiro apenas o HSBC previa queda para a atividade econômica brasileira neste ano, de 0,5%. Ao lado do banco britânico, entre os mais pessimistas, figuravam ainda a Oxford e a consultoria Pezco Microanalysis, que previam alta de 0,1% e estabilidade, respectivamente. Em fevereiro, o grupo rachou, com quatorze instituições prevendo queda da atividade em 2015 e outras quatorze, leve alta.

No último relatório, referente a março, a mediana já indicava queda de 0,6% em 2015. Entre os mais pessimistas, destacavam-se o Banco Bradesco e o Banco Fator, ambos com previsão de queda de 1,5% para o PIB do ano, e o Banco Safra, cuja expectativa era de recuo de 1,3% do PIB.

Os cerca de cem economistas acompanhados pelo boletim Focus, do Banco Central, estão pessimistas. Entre eles, a mediana é de queda de 1,01% para o PIB deste ano, com leve melhora em 2016 (+1,1%) e alta ao redor de 2% nos anos seguintes.

Para Shearing, da Capital Economics, o Brasil tem potencial para crescer entre 4% e 5%, desde que adote políticas voltadas ao crescimento econômico, como reformas no sistema tributário e no mercado de trabalho. "Mas o principal desafio é mudar um modelo de crescimento baseado no consumo para outro baseado em taxas mais altas de poupança e investimento, o que deve requerer grandes reformas fiscais."