Um dos maiores investidores da Suécia pretende entrar com uma ação direta contra a Petrobras, tornando-se o terceiro grande acionista a buscar indenização individualmente da petrolífera brasileira.

O fundo de pensão AP1, de US$ 30 bilhões, planeja processar a Petrobras separadamente da ação coletiva organizada depois das revelações de um escândalo multibilionário de corrupção na maior empresa do Brasil em vendas.

"Optamos por ficar de fora da ação coletiva e pretendemos ter nosso próprio processo contra a companhia", disse um porta-voz da AP1, que tinha 3,7 milhões de ações da Petrobras no fim de dezembro, ao "FTfm".

Vários fundos de pensão europeus que investiram na Petrobras também avaliam suas opções legais

Nas últimas duas semanas, a firma americana de fundos Dimensional Fund Advisors e seis fundos de pensão da cidade de Nova York optaram por ficar de fora da ação coletiva para processar a Petrobras por perdas sofridas como resultado dos subornos supostamente ocorridos na empresa entre 2004 e 2012.

"Nós, entre muitos outros fundos, decidimos tomar medidas contra a Petrobras. Normalmente, fazemos isso entrando em uma ação coletiva. Desta vez, achamos que está no interesse de nossos acionistas buscar nossas reivindicações diretamente", disse um porta-voz do Dimensional. Os investidores podem conseguir melhores termos em acordos quando buscam ações separadas em vez de ação coletiva, segundo advogados.

Os processos dos investidores, que foram propostos no sistema judicial de Nova York, sustentam que a empresa divulgou erroneamente o valor de seus ativos e fez declarações enganosas sobre suas políticas anticorrupção e controles internos de divulgação financeira. As ações da Petrobras, em consequência, foram vendidas a preços inflados artificialmente, segundo documentos das ações.

As ações da Petrobras caíram 43% em 2014. A empresa não quis comentar o assunto. Vários fundos de pensão europeus que investiram na Petrobras também avaliam suas opções legais.

"Não decidimos ainda juntar-nos a qualquer ação coletiva contra a Petrobras", disse um porta-voz da AP3, segundo maior dos cinco fundos de pensão governamentais da Suécia, ao "FTfm". "No entanto, vamos certificar-nos de que recebamos nossa parte em [qualquer] eventual acordo".

O fundo AP7, de US$ 20 bilhões, confirmou que detém 3,3 milhões de ações da Petrobras no valor de € 10 milhões, mas informou que "não planejou entrar em nenhuma ação coletiva".

Nick Butler, professor convidado no King's College de Londres e ex-vice-presidente de políticas da petrolífera britânica BP, acredita que os investidores "têm argumentos muito fortes". "As declarações da companhia destinadas à relação com os investidores, ao longo de vários anos, foram claramente enganosas", disse.

Simon Hart, sócio da firma de advocacia RPC, disse que os "fatos básicos sobre as alegações de suborno parecem estar bem avançados em termos de serem admitidos ou evidenciados".

David Seidel, executivo-chefe da Institutional Investors Tort Recovery Association, que ajuda instituições a se decidirem sobre a entrada em ações coletivas, foi mais cauteloso. "Há algumas acusações muito sérias que precisam ser abordadas e este é provavelmente o maior julgamento de corrupção que já vi. Como isso vai se resolver é outra questão."

Dezenas de fundos de pensão dos EUA entraram com processos contra a Petrobras desde dezembro. Em março, os casos foram consolidados em uma ação coletiva com o fundo de pensão britânico Universities Superannuation Scheme (USS), de 40 bilhões de libras esterlinas (US$ 59,06 bilhões), sendo selecionado como principal reclamante.

A gestora de recursos alemã Union Investment e o fundo de pensão estatal havaiano foram nomeados como reclamantes adicionais no processo. O USS diz ter perdido US$ 84 milhões como resultado da confusão na Petrobras.

O ABP, maior fundo de pensão holandês, e o PGGM, que possui 0,8% (61,5 milhões) em ações da Petrobras, confirmaram que fazem parte da ação coletiva. (Colaborou Joe Leahy)

Demanda impulsiona cotação do barril para maior alta em dois meses

om uma retomada da demanda esperada para os próximos trimestres, o petróleo registrou ontem sua maior alta em dois meses, mesmo com perspectivas de que o Irã possa elevar a oferta da commodity com um acordo sobre as sanções do Ocidente ao país. O barril do WTI, negociado em Nova York, subiu 5,8%, para US$ 51,99, enquanto o do Brent, que é cotado em Londres, avançou 5,22%, para US$ 59,02. Os preços levam em conta os contratos futuros com vencimento em maio.

Há a expectativa de que, quando o Departamento de Energia dos Estados Unidos entregar o relatório de estoques de petróleo amanhã, os números mostrem a primeira queda em quatro meses. Isso sinalizaria avanço da procura pelos barris, o que pode equilibrar, em parte, a oferta mais elevada desde o fim do ano passado. Mas, além disso, sazonalmente o país já utiliza mais petróleo a partir da virada do primeiro para o segundo trimestres.

O analista Walter de Vitto, da Tendências Consultoria, disse ao Valor que tradicionalmente o período de maior atividade dos automóveis, que aumenta a procura por combustíveis, se inicia nesta época. Além disso, a atividade industrial se recupera e o segundo semestre representa o pico da demanda por petróleo nos EUA. "Há a necessidade de que os preços subam para viabilizar investimentos no setor, então a capacidade começa a se equalizar", afirmou o analista.

A contagem de sondas de exploração petrolífera americanas - que produzem o petróleo pelo método não convencional do xisto - continua em declínio e, pelos cálculos do Goldman Sachs, os últimos números demonstram que o crescimento da produção local será de 150 mil barris por dia ao fim do quarto trimestre. No início de março, essas contas apontavam para ganho de 230 mil barris diários.

Como o ciclo de produção do xisto é bem mais curto do que o da exploração convencional, a desistência de campos inviáveis devido ao preço da commodity se dá de maneira mais rápida. Essa diminuição dos poços em utilização nos EUA pode ajudar a equilibrar a oferta e a demanda até o fim de 2015, projeta Vitto. A expectativa da Tendências é que o barril do Brent termine o ano entre US$ 65 e US$ 70 cada - alta de 6% a 14% frente à última cotação de 2014.

Do outro lado, há o temor de que o Irã, que assinou acordo preliminar com as seis principais potências mundiais, o P5+1 - EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha -, adicione oferta relevante ao mercado de petróleo com a suavização das sanções feitas ao país por conta do programa nuclear. Mas, na opinião do Morgan Stanley, é muito difícil que esse volume adicional chegue ainda neste ano.

Os analistas Adam Longson, Haythem Rashed e Elizabeth Volynsky, que assinam relatório enviado a clientes, acreditam que não há muito espaço para os detalhes do acordo serem fechados até junho. Isso significa que a maior parte do aumento de capacidade chegará em 2016. "A reação de outras partes ao negócio podem determinar o sucesso de um texto final", escrevem os três sobre o assunto. O acordo ainda se mostra de difícil implantação, segundo eles, por conta de protestos que podem vir da Arábia Saudita ou de outros países produtores.

Mesmo assim, o relatório alerta: caso o Irã prossiga com seu plano de elevar sua produção em 1 milhão de barris por dia, a recuperação aguardada para os preços da commodity seria atrasada de 6 a 12 meses. "Mas quando a oferta chegar, o mercado deve estar melhor posicionado para absorver esse incremento relevante do que está hoje", acrescenta o trio de analistas.

Vitto, da Tendências, que acredita na alta do petróleo durante este ano, também se preocupa com o Irã. Na opinião do analista, é possível que o petróleo local, produzido a menor custo, derrube as expectativas de preço e consiga manter esse patamar mais baixo por um período mais longo. "O mercado vai ficar mais apertado até o fim do ano. Precisamos ficar de olho para saber se no ano que vem haverá uma melhora", completou.