Brasil já registra 220 casos de dengue por hora, mais da metadde em São Paulo

Paula Felix

Juliana Diógenes

 

O mais recente levantamento do Ministério da Saúde mostra que o Brasil registrou, até 28 de março, 460,5 mil casos de dengue (220 notificações por hora), mais da metade em São Paulo (257.809, ou 55%). O Estado ainda responde por três de cada quatro mortes ocorridas no País (99 de 132). A secretaria estadual afirma que trabalha com números menores, de casos confirmados, enquanto a Prefeitura prometeu reforçar ações.

Pelo ministério, São Paulo também registra o maior número de ocorrências da doença no recorte regional, considerando os 304.251 casos do Sudeste. E lidera rankings por cidades (mais informações nesta página). Considerando o valor de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para epidemia, que é de 300 casos por 100 mil habitantes, o Estado já superou esse indicador: está em 585,5 casos por 100 mil.

 

Tenda instalada na Brasilândia atende pacientes com suspeita de dengue

Tenda instalada na Brasilândia atende pacientes com suspeita de dengue

No Brasil, no mesmo período de 2014, foram registrados 135,3 mil casos (aumento de 240,1% em 2015). No Estado de São Paulo, o registro era de 35.141 (633,6% de acréscimo em 2015). Entre os municípios com mais de 1 milhão de habitantes, Campinas (SP) é a que tem mais casos e maior incidência. A capital paulista aparece em quarto.

O prefeito Fernando Haddad (PT) comentou os casos de dengue no Estado e prometeu reforçar as ações de combate ao mosquito. “Se os dados do Ministério se confirmarem, nós estamos falando de uma epidemia no Estado de São Paulo. A capital continua em uma situação melhor, mas não confortável, porque os casos são muito mais numerosos do que no ano passado. (Vamos) colocar a Vigilância (Sanitária) em alerta total, porque é o pior mês do ano”, disse, referindo-se ao mês de abril.

A Secretaria Municipal da Saúde informou que uma tenda de atendimento para dengue, igual a que já existe na Brasilândia, começará a funcionar hoje na Freguesia do Ó (zona norte). Outras quatro começarão a funcionar até a próxima semana em Lapa e Rio Pequeno (oeste), Vila Manchester (sul) e Itaquera (leste).

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) também abordou o assunto. “O secretário (de Saúde) David Uip está em permanente contato com a Prefeitura. Nós oferecemos, além do que a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) já tem, mais 500 agentes para o combate, 50 veículos, toda a equipe, além do Instituto Adolfo Lutz e 30 médicos.”

O Ministério da Saúde informou que fez um repasse adicional de R$ 150 milhões para todos os Estados e municípios para a adoção de medidas de “vigilância, prevenção e controle da dengue”. Sobre São Paulo, o órgão informou que repassou mais de 28,6 mil litros de inseticida, além de kits de diagnóstico e manuais de manejo clínico.

 

Diferenças. Nesta segunda-feira, 13, também foram divulgados novos dados da Secretaria de Estado da Saúde. Eles apontam que foram registrados, até o fim de março, 158.300 casos autóctones confirmados. O número até 10 de abril sobe para 159.328. Os indicadores diferem dos divulgados pelo ministério, pois levam em consideração os casos confirmados, e não as notificações.

Nos dados do Estado, Campinas também aparece como a cidade com o maior número de casos confirmados: 20.380. A capital vem em terceiro: 9.809. O dado é mais próximo do que foi divulgado na semana passada pela Prefeitura, que apresentou um registro de 8.063 casos nas 12 primeiras semanas e constatou epidemia no Pari (centro).

A Secretaria de Estado ainda negou que exista uma epidemia generalizada. “Dos 645 municípios paulistas, 410 não apresentaram quadro de epidemia”, informou, em nota. A pasta disse ainda que dois terços dos casos foram registrados em 30 municípios.

 

4 das 5 cidades com mais casos são apulistas

Municípios do interior de São Paulo têm as maiores taxas de casos de dengue em três das quatro categorias de incidência da doença adotadas pelo Ministério da Saúde. Conforme boletim divulgado nesta segunda-feira, 13, com dados coletados até 28 de março, no Estado de São Paulo a incidência chegou a 585,5 casos por 100 mil habitantes. A doença é considerada epidemia quanto atinge 300 casos por 100 mil pessoas. O Estado tem 257.809 casos, segundo o boletim.

Entre os cinco municípios brasileiros com maior número de casos em relação à população, quatro são paulistas. Apenas entre as cidades com até 100 mil habitantes, a liderança já não é de São Paulo: Trabiju, que liderou a lista até o início de março, foi ultrapassada pela paranaense São João do Caiuá, que tem 16.760 casos por 100 mil habitantes - a cidade do interior paulista aparece com 14.303/100 mil.

Nas posições seguintes estão Paraguaçu Paulista, com 13.738/100 mil; Estrela d'Oeste, com 11.513/100 mil, e Florínea, com 9.039/100 mil, todas no oeste do Estado de São Paulo.

Na categoria de 100 mil a 499 mil habitantes, a paulista Catanduva lidera com incidência de 9.037/100 mil. Também estão entre as cinco primeiras Mogi Guaçu (2.335,8/100 mil); Sumaré (2.166,5/100 mil) e Limeira (1.699,3/100 mil).

Sorocaba, com incidência de 1.948,6/100 mil, lidera entre as cidades com população acima de 500 mil e até 999 mil. São José dos Campos também aparece na lista com 538/100 mil. Entre as cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes, a liderança é de Campinas, com incidência de 1.707,9/100 mil. Nessa faixa aparecem ainda entre as cinco primeiras, São Paulo (209,2/100mil) e Guarulhos (191,9/100 mil).

Mortes. A prefeitura de Itapira, região de Campinas, investiga mais três mortes possivelmente causadas pela dengue no município. As vítimas - um idoso de 88 anos, uma mulher de 57 e um homem de 54 - morreram depois de apresentar sintomas da doença. A cidade de 72,5 mil habitantes já tem oito mortes confirmadas por dengue este ano e outro caso já em investigação. Até a semana passada foram confirmados 4.172 casos da doença.

 

Ministério raciona envio de hemoderivados para 8 Estados

Pacientes com hemofilia estão enfrentando desde novembro racionamento de produtos essenciais para a sobrevivência, os hemoderivados em oito Estados. Em São Paulo, no último dia 1º, o estoque para fator IX era suficiente para 20 dias. O de fator VIII, para 15 dias - metade do que é recomendado. 

De acordo com informações obtidas pelo Estado no Ministério da Saúde, a média de consumo mensal de São Paulo é de 1,8 milhão de unidades internacionais (UI) de fator IX por mês. Em março, o Estado recebeu 1,3 milhão de UIs e, em abril, 531 mil UI. Com fator VIII, o problema é ainda mais grave. A média de consumo do Estado é de 5 milhões de UIs mensais. Em março, o ministério enviou para a rede paulista 3 milhões e, em abril, 442 mil UIs. A redução também ocorreu com o fator recombinante. A media mensal é de 7,5 milhões. Em março, foram entregues 7 milhões de UIs e, em abril, 5,8 milhões de Uis.

 

 Hemoderivados são essenciais para os hemofílicos

 Hemoderivados são essenciais para os hemofílicos

Médica hematologista do Serviço de Hematologia do Hospital das Clínicas, Paula Villaça diz que os hemoderivados são essenciais para os hemofílicos. "Há cerca de 11 mil hemofílicos em todo o País. Pacientes que não têm o fator de coagulação podem ter sangramentos espontaneamente. É extremamente importante que eles recebam o tratamento adequado e esse tratamento preventivo também diminui riscos de sangramentos mais graves, inclusive na cabeça."

Paula, que também é integrante da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), diz que o número de doses varia de acordo com o paciente, mas que elas podem ser administradas duas ou três vezes por semana. A hematologista afirma que a falta do medicamento seria um retrocesso. "O Brasil já atingiu um ponto de reconhecimento internacional. O paciente tem acesso ao tratamento que é recomendado em todo o mundo e não pode perder nada do que foi conquistado." 

Presidente do Centro dos Hemofílicos do Estado de São Paulo, Maria Cecília Magalhães Pinto diz que não sentiu o impacto da redução de fornecimento dos hemoderivados em São Paulo. "Não estou recebendo queixa de pacientes. Mas não pode faltar. Sem o fator, o paciente não sobrevive. Com o tratamento adequado, ele vive e tem qualidade de vida."

Maria Cecília diz que a redução na distribuição não pode ser uma realidade nos dias atuais. "A gente quer acompanhar os avanços da medicina. Viver com menos quantitativo não passa na minha cabeça. Ter fator em quantidade suficiente para que o paciente tenha qualidade de vida e seja um cidadão pleno na sociedade é uma conquista que veio como resultado de luta de décadas. Essa discussão já está superada."

Em tratamento com hemoderivados há um ano, um hemofílico de 30 anos que preferiu não se identificar diz que sua vida mudou completamente desde que começou o tratamento. "Pela primeira vez na vida, tenho a sensação de que não sou hemofílico. Ao longo da minha infância, joguei bola e me machuquei muito. Tenho sequelas no tornozelo, que já tem artrose." Sangramentos nas articulações são comuns em hemofílicos.

Ele diz que não deixou de receber o produto, que utiliza para tratamento de hemofilia B, mas que teme ficar sem o hemoderivado. "Isso me deixa preocupado. Viver sem o fator é quase uma sentença de morte, porque não tem outra alternativa."

Atraso. A Secretaria de Estado da Saúde confirmou que o repasse do Ministério da Saúde dos hemoderivados foi feito "com atraso e em quantidades parciais nos últimos meses". Mas afirmou que as unidades que oferecem tratamento para os hemofílicos não ficaram desabastecidas. "Porém, com as irregularidades de abastecimento no Estado, os estoques foram utilizados de modo emergencial."

A pasta informou que recebeu quantidade suficiente para atender o serviço durante 30 dias, pois o recebimento do mês de abril foi normalizado e destacou que o plano de atendimento dos pacientes "depende da regularidade do envio mensal e da manutenção da quantidade dos três fatores", referindo-se ao fator IX e aos fatores VIII plasmático e VIII recombinante. A secretaria disse ainda que a maior demanda é pelo fator VIII plasmático.