PF pede quebra de sigilos

Correio braziliense, n. 19980, 14/05/2015. Política, p. 3

André Shalders

João Valadares

Agentes da Polícia Federal que atuam na Operação Lava-Jato encaminharam ao Supremo Tribunal Federal pedidos de quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), do deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A PF também quer os dados financeiros do ex-deputado João Pizzolatti (PP). Os quatro são investigados pela suposta participação no esquema de corrupção instalado na Petrobras. As informações são do site do jornal O Estado de S.Paulo. Também ontem, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, esteve em Brasília e fechou um acordo de delação premiada na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Os pedidos foram protocolados de forma separada dos inquéritos em que os políticos são investigados e correm sob segredo de justiça. Segundo apurou o Correio, pedidos sigilosos também foram feitos ontem pela PF nos inquéritos que investigam o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) e o líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PE). Não é possível, porém, determinar o conteúdo dos pedidos.
As solicitações são direcionadas ao relator da Lava-Jato no STF, ministro Teori Zavascki. As quebras de sigilo têm por objetivo esclarecer acusações feitas pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Youssef, por exemplo, disse em delação premiada ter feito “vários depósitos” em nome de Collor. Já Costa disse à Justiça que parte dos valores desviados das obras da petroleira eram destinados a Calheiros, de quem Aníbal Gomes atuava como uma espécie de “mensageiro”.

Acordo

Ricardo Pessoa é considerado o “coordenador” do grupo de empreiteiras que fraudava as licitações, e negociava a delação desde janeiro. Ele também se comprometeu a devolver R$ 55 milhões. Ontem, ao ser ouvido por procuradores da República, fez referências a deputados federais a ao ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão. Pessoa foi preso em novembro do ano passado, com executivos e empresários, na sétima fase da Lava-Jato. Chegou a ficar numa cela da Polícia Federal em Curitiba, mas, desde o mês passado, cumpre prisão domiciliar em São Paulo com utilização de uma tornozeleira eletrônica.
O senador foi citado como beneficiário, enquanto comandava a pasta de Minas e Energia, do esquema de propina montado pela organização criminosa. Há referências a pagamentos de até R$ 1 milhão. Na tarde de ontem, a defesa do parlamentar informou que não tinha como se pronunciar sobre o assunto em razão de não ter tido acesso ao conteúdo do depoimento prestado pelo empreiteiro. Alegou também que as delações devem ser analisadas com cautela porque representam uma estratégia de defesa de pessoas que, muitas vezes, estão desesperadas.

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Paulo de Tarso Lyra

O ex-vice-presidente da Mendes Júnior Sérgio Cunha Mendes confirmou ter repassado R$ 8 milhões ao doleiro Alberto Youssef. O pagamento foi feito em parcelas, a partir de contratos frios firmados com as empresas de fachada GFD Investimentos e Empreiteira Rigidez, controladas por Youssef.
Apesar de realizado na segunda-feira, o teor do depoimento de Mendes foi divulgado ontem. O empreiteiro classificou de “extorsão” a exigência do pagamento feita por Youssef. Ele também afirmou como o valor da propina era definido. “Era um valor que ele colocou, de R$ 8 milhões e alguma coisa, e foi pago relativo aos aditivos a serem aprovados, da Replan (Refinaria de Paulínia) e do TABR (Terminal Aquaviário de Barra do Riacho)”, afirmou.
Mendes, que declarou ter acertado o pagamento da propina na sede da empreiteira, em São Paulo, afirmou aos investigadores da Lava-Jato que se reuniu com Yousseff a pedido do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. “Nesta relação que nós temos com a Petrobras, foi feito um pagamento em cima de um pedido, mas, mais que um pedido, uma espécie de pressão”, declarou.
Já o engenheiro da Mendes Júnior José Humberto Cruvinel Rezende declarou, também em depoimento no último dia 11, ter se sentido enganado por ter assinado um contrato com o GFD Investimentos. Ele garantiu à Justiça desconhecer que a empresa era de fachada.
Ontem, em Curitiba, os investigadores ouviram, mais uma vez, o doleiro Alberto Youssef, dois dias depois de ele ter confirmado à CPI da Petrobras ter entregue R$ 6 milhões a Fernando Baiano, considerado o operador do PMDB na Lava-Jato.
O teor dos depoimentos não foi revelado. Baiano, a exemplo do comportamento adotado na CPI, permaneceu calado. Aos deputados, ele afirmou preferir falar as coisas “em juízo”. Seria a primeira vez que Baiano prestaria depoimento à Justiça, desde que se tornou réu. O lobista foi preso em novembro de 2014.