Registro da Câmara mostrou que partiu de computador do gabinete do deputado Eduardo Cunha pedido para suposta pressão contra empreiteira. Ele nega e demitiu servidor. Os arquivos digitais de requerimentos de informação sobre contratos da Mitsui com a Petrobras passaram pelo gabinete do deputado federal e presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB­ RJ), em julho de 2011. Os dois arquivos aparecem no sistema da Câmara tendo como autor “dep. Eduardo Cunha”. Em delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que o atual presidente da Câmara teria tentado criar problemas para a Mitsui em 2011, depois que ela parou de pagar propinas no esquema da Petrobras. Cunha negou qualquer irregularidade e disse que não participou da elaboração dos documentos sobre a Mitsui.

Em março, O GLOBO noticiou que a ex­deputada Solange Almeida (PMDB­RJ) havia protocolado pedidos de investigação contra a empresa na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC). Um dos requerimentos foi destinado ao Tribunal de Contas da União. O outro, ao Ministério de Minas e Energia.

Ontem, a “Folha de S. Paulo” informou que esses dois documentos, de 2011, tiveram como origem um computador do gabinete de Cunha. A autenticação dos pedidos de investigação, porém, foi realizada por terminais da sala da própria Solange.

De manhã, Cunha disse que o computador de seu gabinete poderia ter sido usado por qualquer um porque, segundo ele, parlamentares suplentes às vezes não têm onde ficar e utilizavam dependências alheias. Ele lembrou que Solange era suplente de Rodrigo Bethlem (PMDB­RJ). Mas, em 2 de março de 2011, a deputada assumiu seu mandato e, em julho, quando foram feitos os requerimentos, já tinha de onde despachar.

À tarde, depois de ter orientado a Secretaria­Geral da Câmara a emitir uma certidão atestando que as autenticações dos documentos haviam sido feitas por um computador do gabinete de Solange, Cunha vinculou o episódio ao fato de ter ordenado que os funcionários do Centro de Informática da Casa cumprissem a carga horária na íntegra. Na noite segunda­feira, Cunha decidiu exonerar o diretor do órgão, Luiz Antonio Souza da Eira. A assessoria do presidente não informou, no entanto, se isso ocorreu antes ou depois de ele ter sido avisado sobre a reportagem que trataria sobre os requerimentos.

“NÃO SEI DE ARQUIVOS”

Alegando não lembrar do teor dos requerimentos de 2011, Solange admitiu que pode tê­los apresentado e afirmou que “com certeza” não houve participação de Cunha. Ontem, Solange disse que pretende ir a Brasília para levantar todos os requerimentos feitos ao longo dos cinco anos em que esteve na Câmara.