Título: Empresas querem ver para crer
Autor: Hessel, Rosana; Álvares, Débora; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2011, Economia, p. 12

O consenso é de que as medidas são vitais para proteger o país da concorrência desleal, mas fracassos anteriores inibem a comemoração

Apesar de reconhecer o esforço do governo no sentido de fortalecer o parque industrial brasileiro com o Plano Brasil Maior, lançado ontem, os empresários asseguraram que estão longe de comemorações ufanistas. Eles reconheceram que o pacote inclui boa medidas para aumentar a competitividade das fábricas nacionais, incentivar a inovação e impedir a concorrência desleal dos importados, mas será preciso muita vontade política para que as ações não fiquem no papel. Contra o ceticismo, a presidente Dilma Rousseff foi enfática ao anunciar as medidas: "A indústria nacional tem uma aliada e parceira. O desenvolvimento do país não é só econômico. Ele precisa de uma indústria forte, inovadora e competitiva".

Na visão do presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Robson Andrade, o plano propõe avanços, mas ainda não é suficiente. "É um pontapé inicial, com iniciativas práticas, como a preferência de até 25% de produtos brasileiros em compras governamentais", disse. A entidade destacou que muitas das medidas anunciadas fazem parte de pacotes anteriores, que ficaram só na promessa. "O plano é positivo, mas não será capaz de tirar a indústria do sufoco, porque persistem problemas a serem sanados, como o câmbio (dólar desvalorizado), juros altos e elevada carga tributária."

Informalidade Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia de Informação (Brasscom), Antonio Gil, existe uma série de medidas que foram reapresentadas e reprogramadas para terminar mais tarde". Mas ele reconheceu que as reivindicações do setor, feitas há mais de dois anos, como a desoneração da contribuição à Previdência sobre a folha de pagamento, finalmente foram atendidas. "A desoneração resolverá vários problemas, mas ainda não reduzirá totalmente o custo da mão de obra", disse.

Segundo Gil, o estímulo inicial será importante para a formalização de trabalhadores do segmento de TI, que emprega 1,5 milhão de pessoas. "Cerca de 50% desse quadro é informal. Com certeza, uma boa parcela será regularizada", assegurou. Para o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o Plano Brasil Maior é positivo, mas por ser um começo. "Se fosse definitivo, não seria suficiente", comentou.

Os fabricantes de máquinas veem o pacote do governo com bons olhos, mas com cautela, pois as medidas chegam em um momento crítico para a indústria. "Começamos, efetivamente, a lutar, porque no Brasil está em um processo de desindustrialização, que ficou mais acentuada com o forte desvalorização do dólar", disse o presidente da Dedini Indústrias de Base, Sérgio Leme. "O plano precisa ser monitorado e acompanhado para que realmente surta efeito desejado. Só assim, o país sairá da condição de colônia para virar potência", afirmou.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que aguardará a definição do regime especial para o setor, que estimulará os investimentos em inovação.

Deficit dispara O setor de máquinas de base é um dos que mais sofre com a concorrência internacional, devido ao dólar barato. No ano passado, o deficit da balança comercial foi de US$ 15 bilhões ante US$ 2 bilhões de 2006. "Em 2011, nossa estimativa é de que o buraco chegue a US$ 20 bilhões, o que significa dar emprego lá fora para 150 mil trabalhadores", disse o presidente da Dedini, Sérgio Leme. As vendas de veículos importados no Brasil cresceram 115% desde 2005. Já a produção nacional avançou em um ritmo menor, de 45%, segundos a Anfavea.