Título: Fábricas têm tombo na produção em junho
Autor: Hessel, Rosana; Álvares, Débora; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2011, Economia, p. 12

Sem condições de concorrer com os produtos estrangeiros, a manufatura nacional reduz a atividade em 1,6% e repete, no semestre, os níveis da crise financeira de 2009

A indústria brasileira colocou o pé no freio. Diante da concorrência predatória dos importados, a produção industrial caiu 1,6% em junho, na comparação com maio, com redução em todas as categorias. O destaque negativo dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi a produção de bens de consumo semiduráveis e não duráveis: um recuo de 2,4%. O desempenho ruim das fábricas derrubou o nível da atividade no semestre a um crescimento pífio, de apenas 1,7%. O resultado só não foi pior, para intervalos de seis meses, que a expansão de 1,6% da segunda metade de 2009 ¿ ainda sob o reflexo da crise financeira mundial.

"O menor ritmo da produção industrial está relacionado à redução da demanda interna", disse o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo. A seu ver, a desaceleração ocorreu por força das políticas de contenção do crescimento aliadas à forte penetração dos importados, o que leva a um elevado nível de estoque em alguns segmentos, principalmente no setor siderúrgico e na indústria automobilística. Quando sofre forte desvalorização, a taxa de câmbio acaba incentivando a substituição da produção interna pela das fábricas instaladas no exterior.

Desânimo No segundo trimestre, os resultados do setor industrial não foram nada animadores. A queda na produção foi de 0,7% entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores. Esse recuo foi puxado pelos bens de consumo duráveis, cuja produção caiu 6,2% frente aos primeiros três meses de 2011. Nos seis primeiros meses de 2010, a indústria cresceu 16,2%. Mas a taxa anualizada, com o resultado acumulado nos últimos 12 meses, manteve a trajetória descendente iniciada em outubro, ao passar de 4,5% em maio para 3,7% em junho.

Diante dos novos números, o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, avalia que a indústria vai seguir sem força nos próximos meses. "Ainda que a queda intensa da produção industrial verificada em junho tenha se dado de forma generalizada, chama a atenção a expressiva retração da produção de bens de capital. Esse é um sinal de alerta para o cenário positivo traçados para os investimentos", observou. Barros também destaca a revisão feita pelo IBGE para os números dos meses anteriores. A alta de maio em relação a abril foi revista de 1,2% para 1,1% e a queda de abril contra março passou de uma queda de 1,2% para um recuo de 2,3%.

Os resultados reforçam a expectativa do Bradesco de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo semestre será moderado, perto de 0,8%. Para os próximos meses, Barros não vê uma alteração expressiva desse cenário ¿ a indústria ainda deverá mostrar desempenho enfraquecido e estoques elevados.