Título: Impasse superado nos EUA
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Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2011, Economia, p. 15

Com o aumento do teto da dívida e o corte de gastos aprovados no Senado, presidente Barack Obama evita calote, mas paga preço político por ter se dobrado aos republicanos

O impasse político nos Estados Unidos, que prendeu a respiração de governantes, investidores e analistas em todo o mundo por três meses, teve fim ontem com a aprovação, pelo Senado, do acordo que elevou o teto da dívida pública e evitou um inédito calote norte-americano. Por 74 votos a 26, os senadores aceitaram a proposta que passou na Câmara no dia anterior. Menos de duas horas depois, o presidente Barack Obama, que abriu mão de quase tudo o que pretendia no projeto orçamentário, sancionou a lei e fez um apelo. Ele pediu que o Congresso supere a polarização entre republicanos e democratas e volte a trabalhar em prol da recuperação econômica do país.

"Devemos fazer tudo o que está em nosso poder para fazer essa economia crescer e fazer a América voltar ao trabalho", afirmou. Embora tenha desistido de aumentar os impostos sobre os mais ricos, ponto que antes tinha como inegociável, Obama voltou a tocar no assunto ontem. "Nós não podemos equilibrar o orçamento às custas das mesmas pessoas que mais foram castigadas por essa recessão. Todos têm que participar. É o mais justo. É o princípio pelo qual vou lutar na próxima fase desse processo." O projeto aprovado corta gastos, entre os quais os com programas sociais, no valor de US$ 2,4 trilhões. Em contrapartida, aumenta o limite da dívida em US$ 2,1 trilhões, em duas etapas.

Só renunciando ao aumento de impostos, Obama conseguiu jogar a segunda parte das negociações para janeiro de 2013, depois das eleições do ano que vem, nas quais pretende obter um segundo mandato. Na avaliação de analistas, ele perdeu a confiança de suas bases políticas, pois foi dobrado pelos republicanos na negociação. Sua popularidade caiu de 50% para 40%. "A curto prazo, o presidente recebeu um golpe. Apesar de ter evitado uma potencial moratória catastrófica, ele perdeu essa batalha", afirmou Dante Scala, professor de ciências políticas da Universidade de New Hampshire.

A sanção presidencial ocorreu poucas horas antes do prazo fatídico: a partir de hoje, o Tesouro não teria dinheiro para honrar compromissos básicos, como o pagamento de aposentadorias e dos juros sobre a dívida. "Ao tirar uma incerteza grande para os mercados e reforçar a credibilidade orçamentária dos Estados Unidos, esse acordo é bom para a economia norte-americana e mundial", afirmou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Chirstine Lagarde. O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, reclamou: "Acho que a confiança foi danificada pelo espetáculo que vimos em Washington de um grande número de parlamentares no país ameaçando com um calote".

Rebaixamento O governo norte-americano afastou a hipótese do calote, mas a nota atribuída aos seus títulos ainda pode cair. Ontem, as agências de classificação de riscos Moody"s e Fitch mantiveram a cotação "AAA", mas afirmaram que podem rebaixá-la se o acordo para elevar o teto da dívida não resultar em mais disciplina fiscal e recuperação do crescimento econômico.

Isso elevaria, de imediato, os juros cobrados pelos títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA.