Irmão de Vaccari é investigado
Correio braziliense, n. 19974, 08/05/2015. Política, p. 5
João Valadares
Mais um parente do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto entrou na mira da polícia por movimentação suspeita de recursos. O indício é de que ele foi utilizado como laranja. O zelador Antônio Carlos Vaccari, irmão do petista, já condenado em um dos processos relativos à Operação Lava-Jato, levantou suspeitas na pequena cidade de Bastos, interior de São Paulo, após comprar uma casa avaliada em R$ 300 mil. Ouvido pelo delegado-titular do município, Sandro Simões, o acusado afirmou que o imóvel foi comprado após doação de R$ 250 mil feita por João Vaccari Neto. Foram cinco transferências de R$ 50 mil.
Ao Correio, o delegado contou que o depoimento de Antônio já foi encaminhado à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “Ele é zelador e adquiriu uma casa de R$ 300 mil. Chamado à delegacia, revelou que o irmão fez alguns depósitos na conta-corrente dele. Quando o chamamos, não sabíamos quem era o irmão. Ele disse: meu irmão é o João Vaccari, que está preso”, relatou o delegado.
O imóvel nunca foi declarado à Receita Federal. “Ele é uma pessoa muito simples e disse, sem nenhum problema, que nunca declarou. No mínimo, estamos diante de um caso de sonegação fiscal e, no máximo, de lavagem de dinheiro”, afirmou. O zelador recebe aproximadamente R$ 1 mil.
“Como a Operação Lava-Jato já investiga João Vaccari Neto por esse tipo de crime, decidi encaminhar o caso para análise. O zelador foi ouvido e liberado. Não abrimos inquérito policial aqui”, afirmou o delegado. Até o fechamento desta edição, o Correio não havia localizado o advogado de João Vaccari Neto para comentar o assunto.
Não é a primeira vez que um parente do petista é investigado. A cunhada dele, Marice Correa de Lima, chegou a ser presa na Operação Lava-Jato por movimentações suspeitas na compra e na venda de um apartamento. Existe a suspeita de que ela recebeu metade de uma propina de R$ 800 mil destinada ao PT, supostamente paga pela empresa Toshiba. A companhia, que nega irregularidades, teria feito o pagamento depois de ter conseguido um contrato de R$ 117 milhões com a Petrobras para obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Prisão
Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki negou a soltura do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, apontado como um dos integrantes da organização criminosa. Zavascki também acolheu pedido da Procuradoria-Geral da República e determinou que a Polícia Federal tome o depoimento de Marcelo Odebrecht, diretor-presidente da maior empreiteira do país.
“Cara de lobo mau”
O executivo Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, confirmou, em depoimento prestado ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos relativos à Operação Lava-Jato, que pagou R$ 4 milhões de propina em sete parcelas ao doleiro Alberto Youssef. De acordo com Erton, o pedido foi feito pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O dinheiro, conforme o depoimento, foi repassado ao PP por meio de um contrato fictício de consultoria. A sigla nega a acusação. “Aqui, eu até vi na televisão, eles fazem cara de mansinhos para o senhor, parecem uns cordeirinhos para o senhor. Mas lá, a cara deles não era de cordeirinhos, igual eles fazem para o senhor. Lá, a cara deles é de lobo mau mesmo. Apertando até dizer chega”, disse Fonseca ao juiz, ao comentar a postura de Youssef e de Paulo Roberto Costa.