Palácio Tiradentes, museu vivo

 

Jorge Picciani

 

A origem da capital do nosso estado está concentrada num só bairro, o Centro da cidade. E o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que em 2016 completa 90 anos, é o seu epicentro. No ano em que a cidade faz 450 anos e a região passa por obras que mudarão por completo a sua face, é dever do Legislativo valorizar esse patrimônio e contribuir para o fortalecimento do Corredor Cultural do Centro.

Pois muito antes de virar palácio, este lugar já fazia história. No terreno onde hoje está localizada a Alerj, funcionou, a partir de 1639, a Câmara dos Vereadores do Brasil-Colônia. No andar de cima, havia o Parlamento. No térreo, a Cadeia Velha — foi lá onde Tiradentes ficou anos antes de morrer na forca, em 21 de abril de 1792. Daí o nome do atual palácio.

Inaugurado em 1926 para sediar a a Câmara Federal da República, foi fechado durante o Estado Novo (1937-1945) e reaberto para abrigar a Constituinte de 1946. Em 1960, com a transferência da capital para Brasília, deixou de ser Câmara para virar Assembleia Legislativa: primeiramente, do Estado da Guanabara; depois, com a fusão, em 1975, a Alerj — status que mantém até os dias atuais.

Essa trajetória, associada a uma arquitetura marcante e ao fato de até hoje funcionar como Legislativo, faz com que o Palácio Tiradentes seja um dos equipamentos históricos mais visitados da cidade: em 2014, foram 37 mil visitantes, 20% estrangeiros, nos passeios guiados que lá acontecem desde 1998 todos os dias da semana.

Por isso, neste momento em que a cidade passa por históricas transformações urbanísticas, precisamos fazer a nossa parte. Já tiramos os tapumes que cobriam as portas do palácio desde as manifestações de 2013. Voltamos a abrir espaço para a cultura e as artes. Vamos restaurar a parte externa do prédio e usaremos nossa força política para que os equipamentos do Corredor Cultural do Centro da Cidade dialoguem mais entre si. Pretendemos permitir, ainda, que a prefeitura derrube o monstruoso anexo dos gabinetes dos deputados que enfeia a paisagem da Praça Quinze. Para isso, vamos precisar nos mudar. Mas uma coisa é certa: seja lá para onde for a Alerj, o plenário do Tiradentes continuará funcionando onde está.

Sempre discordei da ideia de transformar o palácio em um museu. Pois o que o torna único é o fato de ele preservar, até hoje, o seu DNA político. Um lugar de memória que fez e continua a fazer história. Onde a vida fervilha nas manifestações quase diárias que ocorrem nas suas escadarias e galerias, nos embates travados no plenário e nas comissões. Tem sido assim há séculos. E assim deve continuar.

Jorge Picciani é presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro