Título: Impasse na ONU e mais mortes na Síria
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2011, Mundo, p. 21

Condenação ao regime pelo massacre de manifestantes esbarra em resistências de Rússia e China. Brasil negocia texto de consenso e pede urgência para conter escalada

O Conselho de Segurança das Nações Unidas voltou a se reunir ontem, pelo segundo dia, na tentativa de superar o impasse em torno de uma iniciativa capaz de conter a onda de violência na Síria. Confrontos entre o Exército e manifestantes se repetem na cidade de Hama desde domingo, quando mais de 100 civis teriam sido mortos, segundo a oposição. Os Estados Unidos e seus aliados europeus trabalham para aprovar uma resolução condenando o regime do presidente Bashar Al-Assad, mas esbarra na resistência da Rússia e da China, reforçadas por África do Sul, Índia e Brasil. O governo brasileiro defende uma fórmula de consenso, mas subiu o tom da condenação à violência contra os manifestantes e insistiu na urgência de tomar medidas para conter a escalada de confrontos.

O Conselho de Segurança pode aprovar três tipos de documentos: uma nota à imprensa; uma declaração do presidente do Conselho, que precisa do consenso de todos os membros; e uma resolução, a opção mais dura, que pode incluir algum tipo de sanção. O debate se concentra na proposta apresentada por França, Reino Unido, Alemanha e Portugal, que prevê a condenação do governo sírio, mas exclui uma intervenção militar. O Brasil propôs adendos ao texto original e negociava com Londres uma versão de consenso. No entanto, Rússia e China, ambas com poder de veto no organismo, se opõem a medidas punitivas e argumentam que as forças de segurança também estão sofrendo ataques armados.

"Instamos o governo sírio a cumprir o que eles próprios prometeram: proceder a reformas com sentido de urgência. Como em ocasiões anteriores, estamos em consulta com os demais membros do Conselho de Segurança em busca de uma reposta consensual.", disse ontem o chanceler Antonio Patriota, durante entrevista coletiva. De acordo com fontes do Itamaraty, o Brasil negocia no âmbito do conselho para que o regime de Damasco se comprometa com mudanças e abra um diálogo com a oposição.

Patriota também afirmou que algumas ideias foram coordenadas no âmbito do fórum Ibas, formado por Índia, Brasil e África do Sul ¿ todos ocupando atualmente cadeiras não permanentes no órgão. "Negociamos termos de transferência para uma gestão conjunta dos três países junto às autoridades de Damasco, instando o governo sírio a pôr fim à violência, que já resultou em mortes em uma escala inteiramente inaceitável, o que precisa ser objeto de uma reação que ponha fim a esse processo", completou o ministro. Ele mantém contato permanente com o embaixadora Maria Luiza Viotti, representante do Brasil na ONU.

Três civis morreram ontem em Hama depois de um ataque de míssil, em meio a notícias sobre novos confrontos e a fuga de moradores. Para Osama Kadi, presidente do Centro Sírio de Estudos Políticos e Estratégicos, em Washington, a pressão diplomática precisa ser mais incisiva. "Isso só vai acontecer com uma resolução do Conselho de Segurança. A opressão continua muito forte na Síria, cada vez mais civis morrem no conflito. A posição da Rússia foi uma surpresa, porque o governo (de Moscou) já afirmou que é um aliado do povo e não do regime. Mas acredito que, cada vez mais, tanto o cerco interno quanto o externo devem obrigar o presidente Al-Assad a promover reformas. Não há caminho de volta na luta pela liberdade e pela democracia", disse.