Agência Fitch piora perspectiva, mas mantém classificação de risco do País

Ricardo Leopoldo

Danielle Chaves

 

A agência de classificação de risco Fitch revisou ontem a perspectiva do rating do Brasil de estável para negativa e citou como causas o baixo desempenho econômico, o aumento dos desequilíbrios macroeconômicos, a deterioração das contas fiscais e o substancial aumento do endividamento do governo.

A Fitch manteve a classificação do rating brasileiro em BBB, a penúltima nota de grau de investimento–considerada segura pelos investidores –, mas citou como riscos a dificuldade em consolidar o ajuste fiscal, o crescimento fraco contínuo, a confiança reduzida no governo e o crescente endividamento público.

Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Shelly Shetty, diretora de rating soberano para a América Latina, disse que a recessão que o Brasil enfrenta neste ano e um cenário fiscal incerto levaram à mudança da perspectiva da nota. “O PIB deve cair 1% neste ano e houve deterioração do cenário econômico,oque torna mais difíceis as condições do País para lidar com o peso da dívida pública, bem mais elevada do que a registrada pelos seus pares que têm nota BBB.”

“Na área fiscal, não está clara a aprovação de medidas de ajuste fiscal pelo Congresso neste momento”, disse. “No próximo ano, deve ocorrer uma recuperação moderada da economia, com uma alta do crescimento de 1,2%.”

A mudança da perspectiva do Brasil de neutra para negativa sinaliza que, de 12 a 18 meses, haverá uma decisão sobre a nota do País, disse Shelly. “Alterações de rating podem acontecer antes, e alguns casos já ocorreram, mas não é comum”,ponderou. Ela fez o comentário ao ser perguntada sobre se o rebaixamento da nota soberana do Brasil é iminente, como apontam alguns especialistas.

Com a decisão da Fitch, amplamente esperada, a classificação do Brasil pela agência fica em linha com a da Moody’s, que atribui nota Baa2 ao Brasil, com perspectiva negativa. Até agora, apenas a Standard & Poor’s rebaixou o País para BBB-, um grau acima do território especulativo.

Reação. O comunicado chegou a causar alguma volatilidade no mercado financeiro imediatamente após sua divulgação, com o dólar chegando a subir em relação ao real. O movimento, porém,logo perdeu força. A decisão da Fitch de reduzir a perspectiva da nota, mas mantendo o rating inalterado, foi um voto de confiança no ajuste fiscal, disse a economista Natalia Cotarelli, do Banco Indusval &Partners (BI&P). Natalia lembra que a nota da Fitch está posicionada dois níveis acima do grau de investimento e um degrau acima da nota da Standard & Poor’s.