Título: Nomeação agrada petistas
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2011, Cidades, p. 25

Três semanas após exonerar Luiz Pitiman da Secretaria de Obras, governador anuncia Oto Silvério Guimarães para o comando da pasta. A escolha atende à reivindicação do partido de Agnelo Queiroz, mas arranha acordo fechado com o PMDB antes da eleição

Anunciado ontem pelo governador Agnelo Queiroz como o novo secretário de Obras, o engenheiro civil Oto Silvério Guimarães representa um revés no acordo fechado ainda durante a campanha eleitoral pelo qual o PMDB mandaria em todo o setor de infraestrutura. A escolha, no entanto, não significa um rompimento entre Agnelo e o vice-governador Tadeu Filippelli. Presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) no governo de Cristovam Buarque, Guimarães é um técnico com traquejo político e bom trânsito em todos os setores da construção civil.

Com a decisão, o governador atende à reivindicação de petistas graduados de Brasília que queriam bloquear parte do poder do PMDB na área de obras, mas também não desafia Filippelli, ao indicar um engenheiro capaz de manter o diálogo, com perfil diplomático e com quem dificilmente peemedebistas baterão de frente. Oto não é petista. Ele é apontado por integrantes do governo Cristovam (1995-1998) como um bom interlocutor com o empresariado. O novo secretário de Obras trabalhou na iniciativa privada e exerceu, por exemplo, o cargo de diretor da Caenge, sócia majoritária da Valor Ambiental, empresa que hoje presta serviço de coleta de lixo ao Governo do Distrito Federal.

Oto Guimarães é uma escolha pessoal do governador Agnelo. Na semana passada, chegou a ser aventada a nomeação do atual diretor de Prospeção e Formatação de Novos Empreendimentos da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), José Humberto Matias de Paula, para a pasta. Ele é irmão de Hermes Ricardo de Paula, secretário de Obras do governo Cristovam (1995-1998), e integrava o mesmo grupo que comandou a área de infraestrutura no governo petista, do qual Oto Guimarães fez parte, além do atual presidente da Companhia Energética de Brasília (CEB), Rubem Fonseca.

Formado pela Universidade de Uberaba (MG), Guimarães tem 54 anos. É funcionário de carreira da Companhia de Saneamento do DF (Caesb) desde 1985 e foi diretor do Departamento de Programação e Controle de Obras (DPCO) da Secretaria de Obras, entre 1995 e 1996. Deixou o cargo para presidir a Novacap de 1997 a 1998. Guimarães nunca teve filiação partidária, mas sempre manteve boa relação com políticos de várias legendas, principalmente os ligados à área de infraestrutura.

Agnelo afirmou ter analisado mais de 30 candidatos e escolhido Oto Guimarães por ser um nome que teria mais aceitação nos partidos da base de apoio. "Um técnico muito qualificado e experiente, do ramo, e com passagens pela área privada, que tem toda competência e nossa confiança para tocar uma área tão importante e estratégica do nosso governo", descreveu Agnelo ontem, ao anunciar o novo secretário durante entrevista sobre o Plano Plurianual (2012-2015) enviado à Câmara Legislativa na noite de segunda-feira (Leia mais na página 26).

Substituto Oto Silvério Guimarães vai suceder Luiz Pitiman, que já assumiu o mandato de deputado federal. Ele deixou o cargo depois de um embate com a própria base do governo Agnelo na Câmara Legislativa, ao mobilizar parlamentares para derrubar o projeto de lei que deu superpoderes à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Para Pitiman, a proposta esvazia a Secretaria de Obras, ao permitir que a Terracap comande a construção do Estádio Nacional de Brasília, principal projeto do atual governo.

Ao tomar posse, Pitiman desabrigou Ricardo Quirino (PRB), representante da Igreja Universal do Reino de Deus, suplente do PMDB. Ele deverá assumir um cargo na administração de Agnelo, que, agora, vai se dedicar a outros arranjos em seu governo. A prioridade era resolver a pendência na Secretaria de Obras. A meta, no momento, é discutir mudanças em outras pastas. Um dos pontos a ser decidido é o ingresso do deputado distrital Cristiano Araújo (PTB) no primeiro escalão do Executivo.

O petebista já esteve cotado para diversas pastas: Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Juventude, Micro e Pequenas Empresas e Meio Ambiente. Mas qualquer movimento esbarra em desgaste com outros partidos, como o PT, PDT e PDT. Por isso, Agnelo tem demorado a tomar uma decisão. É certo, no entanto, que ele deve, como estratégia para melhorar a relação com a Câmara Legislativa, aumentar o espaço de distritais na sua administração.

A intenção de Agnelo é atender o PTB. Essa é uma reivindicação nacional, uma vez que o partido é aliado da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Com a saída de Cristiano, assume a vaga o suplente Dr. Charles (PTB), deputado distrital titular na última legislatura.

Colaborou Ricardo Taffner