Título: Com a palavra, os ministros
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Política, p. 2

Cinco comandantes da Esplanada prestarão esclarecimentos no Parlamento. Objetivo do Planalto é deixar blindagem a cargo dos partidos para evitar desgastes a Dilma. Visita bem-sucedida do titular da Agricultura à Câmara reforça estratégia

» Izabelle Torres

Seguindo a orientação da presidente Dilma Rousseff, a base aliada se uniu à oposição e aprovou requerimentos para que cinco ministros alvos de denúncias nos últimos meses compareçam ao Congresso para se explicar. A estratégia do Planalto é jogar nas mãos dos partidos responsáveis pelas indicações a função de blindar e proteger seus representantes, afastando da presidente os efeitos negativos das sucessivas crises que envolvem integrantes do seu governo filiados a outras legendas.

A fórmula adotada pela presidente desagrada os aliados. Nos bastidores, a interpretação é de que o Executivo quer jogar os partidos da base à própria sorte e apenas espera por novas denúncias para reformular a distribuição de poder na Esplanada. O clima de insatisfação, entretanto, ganhou um refresco depois do sucesso na estratégia do PMDB de levar o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, à Câmara sem depender de convocação.

A audiência que deveria questionar o peemedebista sobre as acusações de corrupção na pasta feitas pelo ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto se transformou em uma sessão de homenagens à Rossi e elogios a sua atuação. Nem a oposição, representada na Comissão de Agricultura por ruralistas, constrangeu o ministro. "A vinda de Rossi foi um golpe de marketing. Só teve discurso favorável e nenhuma pergunta que pudesse esclarecer qualquer suspeita. Um verdadeiro faz de conta, que deve se repetir na vinda dos outros ministros ao Congresso", reclamou o deputado Ivan Valente (Psol-SP).

Na audiência, Rossi negou a acusação de que vendeu um terreno da Conab em Brasília por um preço abaixo do mercado e disse que o acusador ¿ irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) ¿ fez "elucubrações", pois estava com raiva por ter sido demitido da diretoria da Conab. "Na ocasião, o líder do governo até perguntou se não era possível mantê-lo em outro cargo, como o de assessor. Mas, depois que vi os documentos sobre sua atuação, nem isso foi possível", disse Rossi, negando também as suspeitas de que sabia sobre negociatas envolvendo o pagamento de propinas a integrantes do ministério. "Tanto é mentira que enviei para os órgãos de controle o pedido de investigação. Inclusive, sobre as acusações que são feitas diretamente a mim", completou o ministro, antes do início de uma sequência de discursos elogiando sua conduta.

Alívio O sucesso da estratégia do PMDB reduziu o temor de outras legendas e seis requerimentos apresentados pela oposição foram aprovados. O primeiro ministro a prestar esclarecimentos será Mário Negromonte, que comanda o Ministério das Cidades por indicação do PP. Seu depoimento está marcado para a próxima quarta-feira e a bancada do partido já foi avisada de que deve comparecer em peso para evitar pressões negativas.

Na sequência, os deputados devem convidar o ministro dos Tranportes, Paulo Sérgio Passos. Em seguida, os titulares do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, vão comparecer à Câmara para falar sobre as denúncias de ocupação ilegal de terras em áreas de proteção ambiental. Na lista de convites também está o comandante das Comunicações, Paulo Bernardo, para se defender da acusação de que teria interferido em contratos do governo do Paraná com o Ministério dos Transportes. Outro membro do Executivo que prestará esclarecimentos é o diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima.

"Vamos trazer todo mundo. A oposição não queria isso? Então aceitamos a ideia e vamos aprovar os requerimentos. Agora vai ser assim. A gente é quem quer trazer os ministros para dar explicações. Esse é o melhor caminho. Quem quiser que se prepare para questioná-los", disse o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Crise econômica internacional Na próxima terça-feira, os ministros da Fazenda, Guido Mantega; da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante; e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel; participarão de uma comissão geral na Câmara dos Deputados. Os três vão falar sobre os impactos da crise econômica mundial no Brasil e como cada pasta vai enfrentar o novo cenário. Os ministros também devem ser questionados sobre a proposta de nova política industrial, lançada na última terça-feira pela presidente Dilma Rousseff.